Mais uma face do terror - armas químicas e biológicas

Parte II

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As armas biológicas são microorganismos que causam doenças mortais ou incapacitantes. Podem ser também toxinas extraídas de animais e plantas ou sintetizadas em laboratório. O primeiro e único país a usá-las foi o Japão, na guerra contra a China, nos anos 30. O Exército japonês tinha até uma divisão especializada nesse tipo de recurso, a Unidade 731, que lançava mão de expedientes traiçoeiros. Numa ocasião, 3.000 prisioneiros chineses foram libertados sem mais nem menos. Era uma armadilha. Antes de saírem da prisão, eles haviam sido infectados com a bactéria da febre tifóide, o que acabou ocasionando uma epidemia na China. Em 1942, o governo japonês fez chegar à província chinesa de Nanquim uma partida de chocolates contaminados com anthrax, a mais temida das armas biológicas (veja quadro acima). Até hoje, não há registro de ataques desse tipo perpetrados por terroristas.

ESTADO TERRORISTA
Várias bombas iraquianas que continham gases tóxicos foram destruídas após a Guerra do Golfo. Suspeita-se, no entanto, que o país de Saddam Hussein tenha voltado a fabricar esses armamentos

ANTHRAX – Infecção provocada pela bactéria Bacillus anthracis. Adquirida por via respiratória, oral ou cutânea, é letalíssima. Origina-se de uma doença do gado comum no século XIX.
VARÍOLA – Doença infecciosa de alto contágio erradicada na década de 70. Alguns países querem ressuscitá-la como arma química. É fatal em 20% a 30% dos casos.
PESTE – Infecção causada por bactérias do gênero Yersinia. Seus vetores costumam ser insetos ou ratos. As principais variedades são a bubônica e a pneumônica. Sem tratamento adequado, podem matar em três dias.
Os compostos empregados nas armas químicas não são difíceis de ser criados. Mas para causar mortes em larga escala seriam necessárias enormes quantidades de substâncias. Um estudo divulgado na semana passada, em Washington, mostra que terroristas levariam dezoito anos de trabalho ininterrupto para produzir artesanalmente 2 toneladas de sarin, quantidade mínima para matar 10.000 pessoas. Eles também encontrariam muita dificuldade na hora de espalhar gases letais e afins. Lançá-los de um avião pulverizador de inseticida acarretaria a perda de cerca de 90% do veneno, em virtude da dispersão pelo vento e de outros fatores ambientais. Para provocar a morte de milhares de pessoas, é necessário ter bombas especialmente desenvolvidas para esse fim e uma esquadrilha de aviões para atirá-las. Com as armas biológicas ocorre o oposto. Bactérias e vírus colocados na caixa-d'água de um prédio ou no reservatório de uma cidade podem acarretar milhares de mortes. Também é simples espargi-los com pequenos aviões. Produzir microorganismos em laboratório, no entanto, é complicadíssimo. A seita Aum Shinrikyo, responsável pelo atentado com sarin no metrô de Tóquio, fabricou o gás ela própria, já que contava com vários cientistas entre seus seguidores. Os fanáticos japoneses, no entanto, não foram capazes de criar armas biológicas, embora tivessem feito várias tentativas.

O grande perigo, assim, é aquele que foi levantado pelo vice-secretário de Defesa dos Estados Unidos, Paul Wolfowitz, durante uma reunião da Otan na quarta-feira passada: que algum país que apóie o terrorismo municie grupos extremistas. Na época da Guerra do Golfo, a CIA avaliava que o Iraque do ditador Saddam Hussein possuía em torno de 150 toneladas de sarin e 400 toneladas de gás mostarda, além de mísseis desenvolvidos especialmente para lançá-los contra alvos militares e civis. Grande parte desse arsenal foi destruída nos bombardeios americanos, mas existe a suspeita de que os iraquianos tenham voltado a fabricar essas substâncias. Outro dado preocupante é o estoque de armas biológicas ainda existente na Rússia e em ex-repúblicas soviéticas. Sabe-se que os comunistas produziram quantidades formidáveis de anthrax. Em um de seus laboratórios, localizado em Sverdlovsk (hoje Ekaterinburgo), houve um acidente em 1979 que matou pelo menos 68 pessoas. Estima-se que a União Soviética tenha produzido, durante a Guerra Fria, algo em torno de 350.000 toneladas de agentes químicos e biológicos, contra 40.000 dos Estados Unidos. É impossível saber com certeza quanto desse arsenal foi desativado. Em mãos erradas, tais armas poderiam engendrar pesadelos tão traumatizantes quanto a tragédia de 11 de setembro.

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