Mais uma face do terror - armas químicas e biológicas

Parte I

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Um espectro ronda a América: o de um ataque químico ou biológico. Infelizmente, ele ultrapassa o campo da paranóia. Desde os atentados aéreos ao Pentágono e ao World Trade Center, em 11 de setembro, os cenários mais improváveis passaram a ocupar o terreno do possível. O alarme soou depois que o FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, descobriu que um dos terroristas suicidas, Mohamed Atta, recolhera informações sobre o funcionamento de aviões normalmente usados na pulverização de venenos agrícolas. Para completar o quadro preocupante, nos pertences de alguns deles foram encontrados formulários para a obtenção de carteiras de motorista especiais. Esses documentos lhes permitiriam dirigir caminhões carregados com produtos químicos. O medo dos americanos fez com que disparasse a venda de máscaras NBC – que dão proteção parcial contra gases tóxicos e microorganismos e impedem o contato com ar contaminado por radioatividade. Fora dos Estados Unidos, o temor também é grande. Em Israel, um dos alvos preferenciais do terror islâmico, o Exército está distribuindo máscaras à população, tal como aconteceu durante a Guerra do Golfo, em 1991.

Há tempos a hipótese de um grande ataque com gases ou germes faz parte do universo dos especialistas em terrorismo. Assim como a de um atentado com armas nucleares. Não é roteiro de filme: ogivas estocadas na empobrecida Rússia ou em um país politicamente instável, como o Paquistão, podem cair nas mãos de um grupo extremista. 

Os terroristas islâmicos representam a maior ameaça nesse sentido pela simples razão de que não têm nada a perder. Como explica o americano Jonathan B. Tucker, editor do livro Assessing Terrorist Use of Chemical and Biological Weapons (Avaliação do Uso Terrorista de Armas Químicas e Biológicas), organizações com uma agenda política e ideológica definidas dificilmente utilizariam arsenais de destruição maciça. Sua violência é, por assim dizer, mais bem calibrada, direcionada a alvos limitados e específicos. Com isso, não angariam uma antipatia universal à sua causa e não detonam uma repressão mais severa por parte dos governos. Já fanáticos, como os seguidores do saudita Osama bin Laden, só têm contas a prestar a um Deus vingativo ou algo que o valha. O confronto é com a humanidade que pensa de forma diferente da deles e, por isso mesmo, na sua visão ensandecida, merece ser destruída de qualquer forma.

Uma antevisão desse inferno ocorreu em 1995. No dia 20 de março daquele ano, integrantes da seita japonesa Aum Shirinkyo embarcaram em trens de cinco linhas diferentes do metrô de Tóquio. Cada um levava uma lancheira e um guarda-chuva. Ao chegar a estações perto do centro da cidade, furaram as lancheiras com a ponta dos guarda-chuvas e desembarcaram, deixando-as para trás. Dentro delas havia ampolas com sarin, um tipo de gás paralisante dos mais perigosos que existem. As cenas que se seguiram foram de horror. Nas calçadas perto das estações, centenas de pessoas sofriam convulsões e sangravam pelo nariz, à espera de atendimento médico. O saldo final foi de doze mortos e 5.000 feridos.

O arsenal de armas químicas inclui gases, líquidos, aerossóis e pós venenosos. Elas começaram a ser usadas durante a I Guerra e estima-se que tenham provocado a morte de cerca de 100.000 soldados. O produto que marcou a época foi o gás mostarda, que destrói as mucosas. Durante a Guerra Fria, Estados Unidos, União Soviética e vários outros países estocaram grandes quantidades de substâncias tóxicas. Ao longo da década de 80, o Iraque lançou gases como o sarin, o tabun e o mostarda sobre tropas do inimigo Irã. A minoria curda também foi alvo da sanha iraquiana. Mais de 125 nações assinaram em 1993 um acordo que proíbe a fabricação de armas químicas e prevê a eliminação total dos arsenais existentes até 2007. Mas muitos países que as têm se recusaram a firmar o documento. Entre eles, Iraque, Líbia, Síria e Coréia do Norte, que abrigam e dão apoio a grupos terroristas.

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