Gasolina podre

"Produto adulterado pode conter mais de 30% de solvente em sua composição"

Enquanto isto, em Brasília, ... 

Um intermediário de venda de combustível "batizado", que preferiu identificar-se pelas fictícas iniciais ‘JP’, contou a revista ISTO É como funciona o esquema da gasolina que está sendo chamada em São Paulo de Gasolina Padre Marcelo:

ISTOÉ: Como é feita a mistura da gasolina?

JP: É o intermediário que mistura. A nota sai em nome do posto. Botamos solventes (risos) na gasolina. Se for álcool dá para perceber.

ISTOÉ: Quanto você cobra de comissão?

JP: Vai de R$ 0,02 ou R$ 0,05 por litro.

ISTOÉ: Quem compra a mistura?

JP: Os donos de posto desesperados.

ISTOÉ: Uma liminar para não pagar imposto reduz o preço da gasolina?

JP: Ajuda. Hoje se consegue uma por uns R$ 200 mil. E não acho isto corrupção. O juiz só faz o que está na lei.

ISTOÉ: E o álcool?

JP: Eles tiram a água do álcool hidratado para ficar só o anidro, que não paga imposto. Daí ele vende o anidro para o posto que depois coloca a água e transforma em álcool hidratado de novo. O anidro sai a R$ 0,47, quando o litro do álcool normal é R$ 0,51.

Com isso tudo, o motor:

  • superaquece
  • engasga
  • perde a potência
  • falha
  • detona ("bate pino")

Tipos de Gasolina:

Comum: É composta de 76% de gasolina A e 24% de álcool anidro (puro, sem água). Com isso, sua capacidade de produzir energia é menor do que a gasolina sem álcool.

Aditivada: É acrescida de aditivos químicos, que reduzem seu poder corrosivo. Com ela o sistema de injeção funciona mais tempo sem entupir nem precisar de limpeza. Mas cuidado: num carro acostumado com a gasolina comum a aditivada pode trazer alguns problemas, como entupimento dos bicos injetores.

Premium: Possui maior octanagem (resistência à alta compressão). É recomendada para carros importados com motores de alta performance. Evita o "bater pinos" e mantém a potência.

Mutretas

Avalanche: No Rio e em São Paulo houve 1.334 denúncias de adulteração este ano.

Balcão: Para reclamar é preciso guardar a nota fiscal

Evasão: A sonegação de impostos provoca um rombo anual de R$ 1,5 bilhão

Prova: Combustível tributos sai 37% mais barato.

Nova Economia

Paradigma: As emergentes tomaram 35% das vendas de gasolina e 60% das de óleo diesel.

Lei cega: 72% do combustível só é barato por força de liminares contra impostos.

Estatística: Apenas 1% das liminares é derrubado.

Domínio: Em São Paulo, oito em cada dez cargas roubadas são de combustíveis.

Fonte: Isto É.

Pesquisa de: Patrícia Hermes Stoco, Juliane Biseli Silveira, Guilherme Lisboa dos Santos - Curitiba - PR

MILHÕES DE LITROS SÃO DESVIADOS

"Sindicom denuncia que apenas 10% do solvente são utilizados pela indústria."

Em torno de 170 milhões de litros de solventes refinado, dos diluentes e dos solventes para borracha produzidos no Brasil têm destino "incerto" todos os anos. A indústria de tintas, plásticos e borrachas consumiu apenas 29 milhões de litros destes produtos em 1999, mas as retiradas nas refinarias somaram 200,9 milhões de litros no mesmo período. Este excedente ninguém sabe explicar para onde foi. A suspeita é de que ele esteja nos tanques dos carros misturado com a gasolina.

A denúncia parte do Sindicato das Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), que fez um levantamento de todos os volumes comprados pelas empresas licenciadas e indústrias químicas a partir de relatórios da Agência Nacional do Petróleo (ANP). A entidade acredita que boa parte destes solventes estejam sendo desviados para a adulteração da gasolina.

O gerente de relações setoriais da Shell, James Assis, afirma que a adulteração e a sonegação de impostos estão criando um caos no setor. Utilizando destes artifícios muitos empresários acabam tendo vantagens no preço competindo deslealmente. "O Paraná está em uma situação crítica", diz. Para o executivo, o estado perde apenas para São Paulo, onde os esquemas liminares de isenção de adulteração são mais fortes. Ainda no ranking, Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas Gerais estão entre os locais com grande número de problemas no setor.

Evaldo Kösters, representante do Sindicato da Reparação de Veículos (Sindirepa) e proprietário do Centro Automotivo Derko, confirma as afirmações de Assis quanto à adulteração ao contar que pelo menos dez carros parecem em sua oficina por mês com o motor danificado por gasolina adulterada. "É espantoso o número de pessoas com este problema", diz.

Fonte: Gazeta do povo, 29.05.2000

Pesquisado por: Patrício A. Deud - Curitiba - PR

MISTURA AUMENTA A LUCRATIVIDADE

Os solvente são subprodutos do petróleo. Por isso, podem ser misturados facilmente na gasolina. Atualmente um litro do produto custa em média R$ 0,35 enquanto o combustível é vendido nas refinarias por R$ 1,08. Daí a vantagem financeira de adicionar solventes na gasolina. As proporções da mistura variam, mas em geral i produto final tem 30% de gasolina, 30% de álcool e 30% de solvente, o restante é formado por corantes e outros substitutos. Em alguns casos a proporção de gasolina é ainda menor que a de solventes.

De acordo com o presidente do Sindicombustíveis, Roberto Fregonese, para retirar o solvente – a baiana Copene, a paulista PQU, a gaúcha Copesul e a Petrobrás – as empresas precisam estar cadastradas na Agência Nacional do Petróleo (ANP). Entretanto, ele explica que para comprar o solvente de intermediários não é necessário estabelecer cotas ou de autorização especial. Basta lembrar da facilidade com que qualquer consumidor pode comprar tinner em qualquer casa de tintas.

FONTE: Gazeta do Povo 

Pesquisado por: Daniel Felipe Tessari

Outras Pesquisas

Principal