Exercícios físicos viciam?

Estudo sugere que prática excessiva de esportes pode levar à dependência  

Fonte - Ciência Hoje

A associação direta feita entre a prática intensiva de esportes e a vida saudável talvez esteja com os dias contados: os exercícios físicos podem causar uma dependência similar à das drogas. A hipótese é abordada por Daniel Alves Rosa em sua tese de mestrado em psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e desfaz o mito de que é somente a vaidade o que leva as pessoas a passar boa parte de suas vidas enfurnadas em academias.

O mecanismo fisiológico que causa a dependência aos exercícios seria o mesmo das drogas ou do álcool. Com a prática intensa de atividade física, o organismo produz a beta-endorfina, um neurotransmissor que atua nas 'vias neurais do prazer' do sistema nervoso central. Esse estímulo proporciona sensação de bem-estar e euforia no indivíduo. Sentir-se bem após a prática de exercícios, entretanto, não é sinônimo de dependência (assim como não é alcoólatra aquele que toma um uísque ao fim do dia para relaxar). É considerado 'viciado' aquele que tem síndrome de abstinência, ou seja, fica irritado, tenso e com sentimento de culpa ao passar algum tempo sem praticar exercícios e, conseqüentemente, produzir a beta-endorfina.

Para comprovar a dependência, Daniel Alves Rosa estudou os efeitos de atividades físicas em 66 indivíduos, entre eles 20 sedentários. Foram distribuídos questionários a praticantes de exercícios (todos com o mesmo preparo físico). Em função das respostas, eles foram separados em dois grupos, os de perfil dependente e os não-dependentes, com 23 pessoas cada.

Os participantes fizeram um teste de esforço físico máximo e responderam a um questionário 15 minutos antes do exercício, imediatamente após e 30, 60 e 120 minutos depois de sua conclusão. Entre os dependentes, os níveis de ansiedade, tensão e raiva diminuíram após os exercícios. Já sedentários e praticantes moderados não apresentaram alterações significativas nesses níveis.

"O indivíduo dependente de exercícios físicos sacrifica sua vida social para praticar esportes, mesmo se houver recomendação médica contrária", diz Alves Rosa à CH on-line. A sociedade tende a classificar esse tipo de pessoa como modelo, já que parece dar atenção especial à saúde e beleza do corpo, o que serviria de exemplo aos sedentários. "Entretanto, o que se constata é que em muitos casos acontece o contrário", afirma. "A prática de exercícios se torna um malefício para a saúde, e a eventual dependência deve ser investigada."

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