Fonte - globo.com
Talheres, sacos de lixo, filmes para proteger alimentos, escovas de
dentes e até brinquedos já estão sendo feitos de plástico biodegradável,
que se dissolve em contato com a água ou com o ar. Mas isso é raro. No
mundo, apenas 27 empresas têm unidades dedicadas à fabricação desse
tipo de material: dez na Europa, dez nos Estados Unidos e sete na Ásia.
Só que, com o acúmulo dos plásticos sintéticos convencionais, o
apelo do ecologicamente correto deve falar mais alto, e a produção,
crescer, aposta o professor de Química Emo Chiellini, da Faculdade de
Engenharia da Universidade de Pisa, na Itália - país com duas empresas
dedicadas à produção de biodegradáveis, a Novamont e a Idroplast.
Chiellini esteve no Brasil para participar de um seminário que reuniu
especialistas em biodegradáveis e em reciclagem na Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp). Todos preocupados com o problema causado
pelo acúmulo de plástico nos lixões e aterros. Uma garrafa de
refrigerante feita de polietileno tereftalato (PET), largamente usado
pela indústria, pode levar 400 anos ou muito mais para se dissolver.
Calcula-se que, desde o começo da década, foram compradas mais de 600
mil toneladas de plástico no Brasil, entre embalagens de refrigerante,
água mineral e outras feitas de PET. Ainda é cedo para contar com os
plásticos biodegradáveis para substituir esse material, principalmente
por causa do custo. "Enquanto o quilo de plástico comum é vendido
a US$ 1,60, o quilo de biodegradável varia de US$ 4 a US$ 10",
explica Luís Roberto Raysel Cruz, diretor industrial da Usina da Pedra,
em Serrana, no interior de São Paulo. Ali foi instalada uma unidade
experimental de produção de matéria-prima obtida de uma variante das
bactérias Ralstonia eutopha, alimentadas com açúcar, como parte de um
projeto da Copersucar com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e
a Universidade de São Paulo. A experiência é pioneira. Bactérias
naturais ou selecionadas no laboratório são capazes de fabricar plástico
biodegradável a partir de outros alimentos, como milho, batata e trigo.
É o que ocorre na fábrica italiana Novamont, detentora da marca
Mater-Bi. No Brasil, a biomassa resultante do processo de fabricação
na Usina da Pedra contém 70% de poliéster. Purificado e seco, esse
material resulta em um polímero termoplástico granulado com 99,5% de
pureza. A partir de 1999, a unidade piloto espera produzir cerca de 150
toneladas de matéria-prima.
Esse é o início do processo. Em seguida, é necessário que os polímeros
sejam combinados com outros elementos para ganhar qualidades como
dureza, flexibilidade e resistência. Depois dessa mistura, poderão ser
usados como matéria-prima de produtos industrializados. Por isso mesmo,
a produção de plásticos biodegradáveis só será possível no Brasil
no prazo de dois anos, quando a unidade piloto da Copersucar estiver
trabalhando a pleno vapor. Trata-se do único experimento do gênero na
América Latina e, quando tudo estiver funcionando, os fabricantes
pretendem ganhar mercados na Europa e nos Estados Unidos, onde a
preocupação com o ambiente é levada mais a sério.
Entre os produtos biodegradáveis já à venda no mercado europeu, por
exemplo, há sacos para embalar mudas de plantas que são absorvidos no
contato com a terra, permitindo que as raízes novas fiquem protegidas
até ganhar forças. Nos Estados Unidos, algumas indústrias oferecem
brinquedos feitos de plástico não apenas descartável mas também
comestível, com uma mistura de amido e corantes não tóxicos. Mas, é
bom que se diga, a matéria-prima biodegradável nunca substituirá os
plásticos comuns. Segundo a professora Lucia Helena Innocentini Mei, da
Faculdade de Engenharia Química da Unicamp, ela servirá mais para
"ocupar um nicho importante dos setores de embalagens e utensílios
domésticos e para uso em áreas específicas como agricultura e
jardinagem ou em dispositivos médicos descartáveis sujeitos a
contaminação".
Por isso mesmo, os fabricantes procuram garantir a sobrevivência do
produto durante o tempo que for necessário. A grande vantagem do plástico
comum, criado a partir de derivados do petróleo, é o fato de durar
muito. Em compensação, acaba criando um problema. O que fazer com os
resíduos indesejáveis e indestrutíveis a curto prazo? A saída tem
sido reaproveitar esse material para outros fins. O PET, por exemplo,
pode transformar-se em fibras para não-tecidos, fios, cordas, tapetes,
carpetes, cerdas de vassouras.
Mas a reciclagem depende, em grande parte, da coleta e seleção do
produto. Embora 85% dos municípios brasileiros tenham programas de
coleta seletiva, eles não alcançam todas as casas. Enquanto os técnicos
não conseguirem outras bactérias para degradar esse material, o
problema terá de ser resolvido pelas comunidades.
Degradados pela natureza
As características dos plásticos ecológicos
Origem
São produzidos por microorganismos selecionados para se alimentar de açúcar,
milho, batata ou trigo.
Resistência
No aspecto e na forma, os polímeros assim formados são semelhantes aos
plásticos convencionais de longa duração, com diferentes formulações
apropriadas para cada caso.
Processo
Depois de usados, sua composição se altera pela ação combinada de
agentes físico-químicos e microorganismos; no final do processo se
reduzem a dióxido de carbono e água.
Fonte: Emo Chiellini, da Universidade de Pisa
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