Tesouro químico da Amazônia

Compostos encontrados na floresta dão origem a remédios, tintas e outros produtos

fonte - Ciência Hoje

Quando se aborda a diversidade da Amazônia, tende-se a privilegiar a variedade de espécies de plantas e animais que ali ocorrem, em detrimento de inúmeras outras riquezas - como a química. A variedade de compostos químicos presentes na floresta amazônica já era utilizada pelos índios para curar doenças desde antes do descobrimento da América, e tem sido cada vez mais valorizada. "A Amazônia tem uma importância química tremenda para o mundo todo", afirmam os cientistas Maria da Paz Lima e Adrian Martin Pohlit, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

"É nas plantas que se concentra a maior variedade de produtos químicos na Amazônia", afirma o biofísico Antônio Paz de Carvalho, diretor da Extracta Produtos Naturais. Mas diversos compostos são também sintetizados em outros organismos vivos (animais, fungos e bactérias), e podem ainda ser encontrados no petróleo, nas águas ou em depósitos de minérios. Essa variedade química é matéria-prima para produtos consumidos em diversos setores, como a agricultura e a indústria farmacêutica e de cosméticos. "Os produtos naturais importantes industrialmente são as resinas, venenos, ceras, borrachas, tintas, colas e gomas", dizem os químicos Maria da Paz Lima e Adrian Pohlit.

O tesouro químico amazônico engloba substâncias com propriedades repelentes, antitumorais e antimaláricas, entre outras. Da floresta, já foram extraídos compostos como a quinina (principal remédio de combate à malária), a estricnina (raticida) e a genipina (usada para a tintura de pele e cabelos). Venenos diversos também foram retirados de animais, e óleos essenciais extraídos de plantas da região são hoje muito usados na perfumaria.

A composição e as propriedades desses produtos naturais são determinadas pelas características do meio em que ocorrem (a Amazônia), como o tipo de solo ou a exposição à luz. Esses compostos podem ser usados diretamente como matéria-prima para a indústria, ou sua estrutura pode servir como modelo para a síntese de moléculas artificiais.

No entanto, segundo o químico Otto Gottlieb, uma referência no estudo de produtos naturais, ainda se conhece menos que 1% de toda essa riqueza. É possível, por exemplo, que haja na Amazônia compostos com atividades terapêuticas contra diversas doenças. Há muitas razões para que se conheça tão pouco dessa diversidade. Segundo Lima e Pohlit, cada extrato vegetal pode conter centenas componentes e substâncias orgânicas diferentes. "Não há gente suficiente para trabalhar na região", acrescenta Adalberto Val, biólogo do Inpa.

Essas e outras dificuldades podem fazer com que muitos compostos desapareçam antes mesmo que sejam descobertos. Uma forma de se evitar isso seria a criação de meios para conservar produtos naturais em condições adequadas para pesquisa futura.

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