O Modelo Padrão em xeque?

Resultados experimentais divergem de teoria que descreve estrutura da matéria

Fonte - Ciência Hoje

O Modelo Padrão da Física de Partículas, teoria que descreve a estrutura da matéria em escala subatômica, pode ter sofrido um abalo. Um experimento que mediu as propriedades de uma partícula conhecida como múon chegou a resultados que divergem das previsões teóricas derivadas do Modelo Padrão. O experimento, realizado no Laboratório Nacional de Brookhaven (Estados Unidos), contou com a participação de pesquisadores americanos, russos, japoneses e alemães. Os resultados, anunciados em um colóquio em 8 de fevereiro, foram submetidos para publicação na revista Physical Review Letters.

Laboratório de Brookhaven em que se realizou o experimento cujos resultados contestam o Modelo Padrão da Física de Partículas

O Modelo Padrão é uma teoria que descreve as partículas subatômicas constituintes de toda a matéria e as forças que regem as interações entre elas. A teoria teve sua forma definitiva elaborada em 1967, e tem resistido a rigorosos desafios experimentais desde então. "Trata-se de um dos grandes feitos intelectuais da humanidade", avalia o físico Ronald Shellard, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).

O experimento de Brookhaven consistiu em submeter a um forte campo magnético um intenso feixe de múons - partículas subatômicas similares ao elétron, embora mais pesadas. Desde 1997, os pesquisadores vêm colhendo dados para medir de que forma uma característica associada ao spin dos múons é afetada pela ação do campo magnético. "A precisão de nossos resultados equivale à de uma medição em escala de centímetros da distância entre Nova York e Los Angeles", afirmou a física Priscilla Cushman, da Universidade de Minnesota (Estados Unidos), que participou do experimento.

O valor encontrado é superior ao obtido por cálculos teóricos feitos a partir do Modelo Padrão. Segundo os cientistas envolvidos no experimento, isso pode significar que esse modelo precisa ser expandido, ainda que esteja fundamentalmente correto. "Deve haver uma teoria mais completa da qual o modelo seja apenas uma aproximação", afirma Cushman. "Não podemos começar a investigar os limites de sua aplicação antes de identificar onde ela está errada."

Os pesquisadores não descartaram, no entanto, a hipótese de ter havido erros nos experimentos. Eles pretendem continuar a análise dos dados para reduzir a margem de erro, e reconhecem a necessidade de aprofundar os estudos. Para Ronald Shellard, ainda é cedo para tirar qualquer conclusão dos resultados de Brookhaven. "Os pesquisadores podem encontrar uma explicação simples para os resultados discrepantes, como a falta de algum elemento no cálculo teórico." Ele lembra ainda que esta não é a primeira vez que resultados de experimentos similares contestam o Modelo Padrão. "Embora seja intrinsecamente limitado, esse modelo é muito sólido e deve sobreviver."

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