Casca de camarão pode virar embalagem biodegradável

Substância extraída desse resíduo pode ser utilizada na fabricação de filme para recobrimento de frutas, substituindo o filme de polietileno

São Paulo - Pesquisadores do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) estudam diversas possibilidades de uso para a quitosana, uma substância extraída das cascas de camarão. Um dos trabalhos mais adiantados é a utilização como filme para o recobrimento de frutas. Totalmente biodegradável, o filme de quitosana poderá substituir os filmes sintéticos, principalmente os de polietileno, em embalagens de alimentos.

Além de substituir embalagens não-biodegradáveis, a utilização da quitosana pode resolver um outro problema ambiental de regiões com expansão da indústria pesqueiras, como Itajaí (SC), onde fica a Univali. A captura e o processamento do camarão têm gerado uma grande quantidade cascas, que não servem para a fabricação de ração animal, devido ao elevado conteúdo em fibras. Esses resíduos gerados pela manufatura das indústrias são enterrados ou jogados clandestinamente em rios ou no mar, ocasionando graves problemas de poluição.

O testes com a N-carboximetilquitosana, um derivado da quitosana solúvel em água, estão sendo coordenados pela professora de Farmácia e Nutrição da Univali, Maria Enói dos Santos Miranda. O projeto, que é tese de doutorado da professora, está sendo realizado no Departamento de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e visa utilizar o filme para aumentar o tempo de exposição das frutas sem alterar suas características.

O trabalho, que vem sendo desenvolvido há um ano, é custeado pela própria Univali através de seu Fundo de Apoio à Pesquisa e não há um balanço de quanto já foi gasto. A previsão é que a parte laboratorial da pesquisa esteja pronta até o final de 2002, para que então comece o desenvolvimento da parte tecnológica, que poderá viabilizar a comercialização do produto.

Segundo Maria Enói, como a quitosana tem características de solubilidade muito diferenciada, dependendo do pH do meio em que se encontra, é possível formar filmes comestíveis com a simples adição de determinados solventes. A professora explica que o filme de quitosana, quando aplicado sobre superfície de frutas e vegetais, pode reduzir a transferência de umidade, oxigênio, dióxido de carbono e compostos aromáticos para o meio ambiente, aumentando consideravelmente a extensão de sua vida-de-prateleira.

Segundo o professor de Farmácia, Clóvis Antônio Rodrigues, que realiza estudos com a quitosana no Núcleo de investigações Químico-farmacêuticas (Niqfar) da Univali, uma série de filmes polissacarídeos (biodegradáveis) vêm sendo testados nos últimos tempos, incluindo os de pectina e proteínas de soro de leite, mas somente os elaborados com quitosana apresentam elevada mucoadesividade (aderência ao produto), propriedade extremamente importante para a função de conservação do alimento.

Outras aplicações

As características peculiares da quitosana têm motivado muitos estudos com a substância. No Brasil, incluem trabalhos sobre sua utilização, na área de alimentos, como emulsificante, substituindo amidos e gomas, ou ainda como fonte de fibras em biscoitos dietéticos e suplementos nutricionais.

O professor Rodrigues afirma que a substância pode ter, ainda, aplicações nas indústrias farmacêutica e cosmética (na fabricação de antiácidos, membranas para hemodiálise, cicatrizantes de feridas e queimaduras, biomembranas para encapsulação de medicamentos, redutores de peso e colesterol, xampus e condicionadores). Na medicina, pode ser utilizada na produção de pele sintética e anticoagulantes.

A quitosana também tem potencial emprego na produção de agentes antibacterianos e antivirais para a produção de sementes, no tratamento de águas residuais (quelação de metais pesados), aplicações óticas (produção de lentes de contato), na indústria de alimentos como clarificante de bebidas, estabilizante e, mais recentemente, como conservante.

Pesquisa - original em Estadão

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