Efeitos da chuva ácida em lagos

Recuperação da biodiversidade demora mais que a do pH

As transformações químicas provocadas pela chuva ácida são mais facilmente reversíveis que as mudanças biológicas. Isso é o que sugerem os resultados de um experimento feito para avaliar os efeitos da chuva ácida realizado no lago Little Rock, em Madison, Estados Unidos. O estudo, coordenado por Thomas Frost, da Universidade de Wisconsin-Madison, analisou por vinte anos a ação do ácido sulfúrico sobre o lago. O pesquisador constatou que, mesmo depois de o pH da água voltar ao normal, a biodiversidade do ecossistema não havia sido recuperada.

As duas bacias que compõem o lago foram separadas por uma cortina de plástico. Uma delas permaneceu intacta, e a outra recebeu por seis anos doses sistemáticas de ácido sulfúrico - um dos principais componentes da chuva ácida na região e em outras áreas do mundo. De 1984 a 1990, a bacia testada teve seu pH original reduzido de 6.1 para três níveis - 5.6, 5.2, e 4.7 -, cada um mantido por dois anos. No ano 2000, o pH voltou finalmente a seu índice inicial, sem qualquer intervenção dos pesquisadores.

As características da água acidificada mudaram significativamente as cadeias alimentares e as condições de sobrevivência dos seres vivos no lago. Certas espécies de zooplâncton foram extintas; outras tiveram sua população sensivelmente reduzida com a acidificação. Algumas delas, no entanto, aumentaram, já que o número de predadores e competidores diminuiu. "Quando testamos o efeito direto do pH em algumas espécies, as reações não foram diretamente ligadas ao ácido, mas sim às mudanças na interação delas com outros organismos", disse Frost à CH on-line. "No geral, entretanto, pode-se dizer que o total de vida no lago manteve-se o mesmo, já que o ecossistema como um todo é mais passível de recuperação rápida que as espécies individualmente."

Frost observou ainda que a cor da bacia acidificada também se alterou, tornando-se mais transparente. Ele atribui isso ao fato de o carbono orgânico dissolvido do lago, bem como a capacidade de esse carbono absorver raios ultravioleta, terem sido diretamente afetados pela acidificação.

A quantidade de chuvas ácidas nos Estados Unidos vem crescendo lentamente. No nordeste do país, onde os lagos são mais vulneráveis ao fenômeno, a média do pH da água da chuva chegou a 4.0 nos anos 80 - o pior índice já observado -, enquanto hoje está em 4.8. "Antes vista como um problema isolado, a chuva ácida é hoje considerada a causadora de problemas para a saúde do ecossitema", afirma Frost.
Fonte - Ciência Hoje/RJ - Helena Aragão

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