Super bactéria resiste a antibiótico

Nova droga desenvolvida é ineficaz antes mesmo de ser usada.

Um poderoso inimigo da saúde pública mundial, a cepa super resistente da bactéria enterococo, ganhou mais uma vez a batalha contra cientistas. Pesquisa inédita desenvolvida pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) demonstra que uma nova droga desenvolvida pela indústria farmacêutica para combater a ação da bactéria é ineficaz, mesmo antes de ser usada. No estudo, demonstrou-se que o enterococo super resistente já apresenta mecanismos para defender-se do medicamento, batizado de upristin-dalfopristin.

"A esperança de que em breve teríamos um trunfo para combater a infecção caiu pro terra", afirma o professor de doenças infecciosas e parasitárias da Unifesp, Hélio Silva Sader coordenador do trabalho. "Agora, a indústria terá novamente de se debruçar sobre as pesquisas para combater o microrganismo". Sader explica que, atualmente, um paciente que contrai a infecção grave por esse agente fica praticamente sem tratamento.

Apesar da preocupação dos médicos, Sader afirma que o problema se restringe apenas a pacientes com baixa imunidade, que estão internados em hospitais, submetem-se a quimioterapia ou usam drogas imunossuspressoras. "Pessoas sadias não precisam ficar atemorizadas: a bactéria transforma-se em uma ameaça apenas quando o organismo está debilitado", comenta.

Desequilíbrio

O enterococo está presente na flora intestinal, assim como uma série de outros microrganismos. Em condições normais há equilíbrio entre as bactérias. Porém, quando alguns desses agentes que concorrem com o enterococo são dizimados, ele prolifera e com isso há riscos de infecções. Em casos em que o problema não é controlado, a infecção pode ser fatal. O tratamento do problema tornou-se muito difícil depois que o enterococo tornou-se resistente ao antibiótico vancomicina. O sucesso é obtido somente quando a infecção é detectada a tempo e quando a terapia é feita de forma adequada.

Conhecida pelos técnicos como Van A, a cepa resistente do esterococo é responsável por 30% das infeções hospitalares nos Estados Unidos. No Brasil a primeira infecção com o agente foi registrada em 1997, em uma paciente em Curitiba. Somente um depois um caso semelhante foi confirmado em São Paulo, no Hospital Santa Marcelina. No entanto, a partir de então, a infecção atingiu uma série de outros pacientes.

Desenvolvida pela médica infectologista Rosângela Ferraz Cereda, a pesquisa foi divida em duas partes. Na fase inicial, Rosângela dedicou-se a analisar 436 amostras de enterococos fornecidas por institutos de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Florianópolis. Também foram analisadas cepas da Argentina, Venezuela e Chile. "Detectamos que 3,8% dos agentes eram resistentes a vancomicina, a última opção de tratamento atualmente disponível para combater a bactéria". Desse total, duas eram da Argentina e o restante do Brasil.

As Van A encontradas no estudo vieram dos hospitais: Beneficência Portuguesa (1 caso), Hospital São Paulo (1 caso), Santa Casa ( 4 casos) e Servidor Público Estadual (8 casos). Na Segunda fase, mais amostras foram analisadas. "No Hospital Santa Marcelina, no Hospital do Servidor Público Municipal Incor também haviam cepas resistentes", relata a infectologista. As bactérias de São Paulo, além de serem resistentes ao antibiótico vancomicina, mostram-se imunes ao quinupristindalfopristin e a drogas que ainda estão sendo testadas pela indústria farmacêutica, que nem mesmo tem nome.

Fonte – gazeta do povo – 22.05.2000

Pesquisado por: Patrícia A. Deud - Curitiba - PR

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