A mais chata das dores

Poucos são os felizardos que nunca tiveram uma dor de cabeça, Existem mais de cem tipos desse mal, que variam de intensidade, freqüência e origem.

A dor de cabeça, ou cefaléia, é o sintoma mais comum da espécie humana. Cerca de 98% da população já experimentou ao menos uma vez a sensação de pressão ou de latejo no crânio que pode durar de alguns minutos até vários dias. Apesar de muito incidente, a cefaléia ainda é mal diagnosticada e tratada. Pessoas relutam em procurar especialistas e na maioria das vezes apelam para a automedicação, que pode transformar dores ocasionais em problemas crônicos. O primeiro passo para a cura é perceber quando uma cefaléia exige atendimento médico e buscar auxílio.

Segundo o neurologista Jorge Curia Filho, membro das sociedades brasileiras de doenças cérebro-vasculares e de neuropsicologia, existem mais de cem tipos catalogados de cefaléia. Elas podem variar quanto à intensidade, à freqüência e à origem, por exemplo. Uma crise pode ser decorrente de uma virose, de uma infecção, ou de males mais graves, como tumores ou problemas de circulação, embora estes casos sejam muito raros.

– A percentagem de casos em que a dor de cabeça se deve a um problema neurológico estrutural, como tumor, meningite ou aneurisma, fica em torno de 2% a 3% – afirma a neurologista Liselotte Benke Barea, coordenadora do Ambulatório de Cefaléias do Serviço de Neurologia da Santa Casa.

As causas mais freqüentes são viroses, estresse e depressão, segundo Curia. As crises podem ser de intensidade leve, moderada ou alta, durar apenas alguns minutos e ir embora sem a necessidade de tomar remédios, ou perdurar por vários dias e exigir o uso de medicamentos.

– Em casos extremos o paciente precisa até ser sedado – comenta Curia.

Há dois tipos principais de cefaléia: a tensional e a enxaqueca. A tensional se divide em duas categorias: aguda (é a mais comum, ocorre apenas eventualmente e tende a ser de leve a moderada) e a crônica (igual ao tipo anterior, mas ocorre em 15 dias do mês ou mais). As crises de enxaqueca são mais intensas e costumam vir acompanhadas de sintomas associados, como tontura, mal-estar, vômitos ou alterações visuais. Além disso, a vítima fica muito sensível a luminosidade, cheiros e sons.

Em casos crônicos ou de enxaqueca, o melhor a fazer é evitar tomar remédios por conta própria e procurar um médico.

– Inicialmente, pode ser consultado um clínico geral ou um neurologista – afirma Liselotte.

Curia acrescenta que a pessoa deve procurar auxílio também quando a dor for muito intensa, cada vez mais forte ou apresentar sinais associados como torpor e dormência.

– Muita gente tem medo de procurar o médico. Mas apenas 1% dos casos é referente a algum tipo de tumor, e, destes, somente 25% exigem cirurgia. E, mesmo nessas situações, quanto mais cedo iniciar um tratamento especializado melhor – ensina Curia.

O neurologista Clovis Francesconi, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, explica que o cérebro, na verdade, não dói. O problema ocorre nas terminações nervosas das meninges (membranas que recobrem o cérebro) e dos vasos sangüíneos que irrigam o órgão, que doem quando se dilatam. O desconforto ainda pode ser provocado quando a musculatura que recobre o crânio sofre uma espécie de contratura. Na origem da enxaqueca, acredita-se que esteja um desequilíbrio no funcionamento de neurotransmissores (que fazem a comunicação entre as células nervosas), principalmente a serotonina.

Embora muitas pessoas acreditem que a cefaléia atinja apenas adultos, Francesconi alerta os pais para os riscos de crianças e adolescentes também sofrerem desse mal.

– Atualmente, os videogames são grandes fontes de dor de cabeça para os jovens. Eles tentam superar suas marcas e passam horas na frente da tela – condena o médico.

Ele também afirma que é importante para as crianças não assumir muitos compromissos, como aula, ginástica, curso de inglês, entre outras tarefas.

– Criança tem de ter tempo para brincar – recomenda.

Um estudo coordenado pela neurologista Liselotte Barea em 1995, em Porto Alegre, mostrou que 93% dos jovens de 10 a 18 anos já tiveram cefaléia, e 82,9% tinham sofrido uma crise de dor de cabeça naquele mesmo ano.

NÚMEROS

• Nos Estados Unidos, onde há mais estatísticas sobre o tema, as dores de cabeça provocam a perda de um milhão de dias de aula e 150 milhões de dias de trabalho por ano

•31% das pessoas precisariam de tratamento médico em razão da incapacidade funcional provocada pela cefaléia

•Cerca de 75% dos brasileiros apresentam de duas a cinco crises de cefaléia por mês

•Estima-se que a enxaqueca atinja cerca de 6% dos homens e 18% das mulheres

•Existem mais de cem tipos de dor de cabeça, entre os quais a tensional e a enxaqueca são os mais comuns

• Entre as crianças, 39% já tiveram dor de cabeça aos seis anos, e 70%, aos 15

•Estima-se que 60% das mulheres e 70% dos homens com cefaléia não procuram ou recebem

• No Brasil, 45% dos pacientes de cefaléias procuram tratamentos não-convencionais como exercícios e bebidas caseiras

• A cefaléia é o sintoma mais comum do mundo. Cerca de 98% das pessoas sofrem ao menos uma crise de dor de cabeça ao longo da vida

•Acredita-se que as perdas econômicas nos Estados Unidos variem de US$ 6 bilhões a US$ 17 bilhões por ano em razão da queda na produtividade dos trabalhadores provocada pelas cefaléias

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