Contaminação do solo

Veículos deteriorados, falta de equipamentos e motoristas despreparados estão entre as principais causas

Transporte de carga tóxica representa 38% dos acidentes ambientais

fonte - estadao

São Paulo - O transporte rodoviário foi responsável por 38% dos cerca de 4 mil acidentes ambientais ocorridos no estado de São Paulo entre 1978 e 1999, segundo dados da Companhia de Tecnologia Ambiental (Cetesb). Discutir as causas e como combater esse problema foi o objetivo do seminário sobre Transporte de Cargas Perigosas, realizado hoje, em São Paulo, pela Associação Brasileira de Ecologia e de Prevenção à Poluição do Ar (Abeppolar).

Diariamente, milhares de toneladas de cargas tóxicas, explosivas e até radioativas circulam pelas rodovias e ruas das cidades, representando risco de destruição ambiental e à saúde da população. Esse risco poderia ser minimizado caso fossem adotadas medidas de segurança, normalmente negligenciadas pelas transportadores e pelas empresas que as contratam, além da falta de fiscalização do poder público.

Segundo Cláudio Galante, da S.O.S. Cotec Produtos Perigosos, empresa especializada em atendimento emergencial, somente 10% das cargas perigosas são transportadas adequadamente no Brasil. "O motivo é ignorância e economia, que fazem as empresas contratarem transportadoras sem qualificação", diz. O resultado são veículos deteriorados, equipamentos avariados e motoristas despreparados, fazendo dos caminhões verdadeiras bombas ambulantes.

Luís Cláudia Cunha, da transportadora Brasilmaxi, embora os acidentes com combustíveis e derivados sejam os responsáveis pelo maior número de acidentes (38%, segundo a Cetesb), os gases inflamáveis - como GLP (gás de cozinha), oxigênio e nitrogênio - são os mais perigosos. Na sua opinião, a amônia, gás que fica em suspensão, é o mais complicado, por ser de difícil remoção e causar males imediatos à saúde e ao meio ambiente, queimando toda a vegetação ao redor.

Além dos líquidos inflamáveis, Ricardo Rodrigues Serpa, gerente da Divisão de Tecnologia de Riscos Ambientais da Cetesb, lista as seguintes cargas como causadoras de acidentes ambientais: corrosivos (13%), substâncias tóxicas (3%), oxidantes (1%), gases (12%) e sólidos inflamáveis (1%), além de substâncias diversas (16%) e não identificadas (16%). Segundo Serpa, 62% dos acidentes no Estado acontecem na Região Metropolitana de São Paulo.

"A prioridade nesses casos, é conter o vazamento e remover o produto. A maior dificuldade é mostrar que um acidente com cargas tóxicas não pode ser tratado como uma emergência de trânsito e requer um esquema especial. Para melhorar o atendimento é precisa intensificar e capacitar a fiscalização e contar com planos de emergência, que dependem também do preparo das empresas", diz o gerente da Cetesb.

Um dos fatores importantes, além de treinamento e equipamento necessário, é a informação visível do tipo de carga que se está transportando, como manda a lei. Muitas vezes, os bombeiros não sabem com que estão lidando e trabalham inutilmente ou se tornam também vítimas dos acidentes. Pelo mesmo motivo, os médicos nem sempre sabem como medicar os afetados com segurança.

Todos os especialistas no assunto são unânimes em apontar a empresa que contratou o transporte como co-responsável pelo acidente, na maior parte das vezes por não checar a qualidade da transportadora. Segundo Evandro Vaz, consultor de Gerenciamento de Riscos, é comum cargas perigosas serem transportadas por caminhões graneleiros na região Centro-Oeste. "A transportadora retira o material da empresa com um bem equipado caminhão baú e em sua sede transfere a carga para um caminhão que viajaria vazio até receber os grãos", diz.

Para o advogado especialista em causas ambientais, Antônio José Monteiro, essas empresas contam agora com bons motivos para reverem essa postura. "A legislação ambiental brasileira considera responsável pelo dano ambiental todos os envolvidos direta ou indiretamente, independentemente da existência de culpa. Isso significa que não só quem transporta, mas também quem contratou o transporte e até quem comprou o produto, pode ser responsabilizado e está sujeito a autuações, ressarcimento ou reparação do dano. Além disso, a Lei de Crimes Ambientais prevê sanções criminais

Um maior grau de oxidação para o plutônio

O dióxido de plutônio foi considerado, por muito tempo, o óxido mais estável desse elemento artificial. Contudo, experiências recentes mostram o contrário.

O químico John M. Haschke, de Waco no Texas, e os colaboradores Thomas H. Allen e Luis A. Morales, do Laboratório Nacional de Los Alamos (EUA), observaram que o dióxido de plutônio reage muito lentamente com água e oxigênio, formando compostos de grau de oxidação mais elevado. Os pesquisadores deixaram reagir amostras de dióxido de plutônio puro, em uma câmara selada contendo vapor d'água e oxigênio. Eles monitoraram a produção de hidrogênio gasoso liberado pelo vapor d'água e usaram difração de raio-X para resolver a estrutura dos compostos. Concluíram que a forma estável do dióxido de plutônio não encerra dois, mas 2+x átomos de oxigênio, em que x é menor ou igual a 0,27. Essa forma mais oxidada é o produto de uma reação extremamente lenta com água. A experiência do grupo de Los Alamos durou quatro anos. Esse tempo de reação torna-se relevante no armazenamento de lixo nuclear por longo prazo.

Por outro lado, esses óxidos se dissolvem facilmente na água, explicando por que o plutônio migra no solo mais rapidamente do que esperado. A descoberta tem implicações na segurança dos depósitos de lixo nuclear, afetando portanto o meio ambiente. A estabilidade do plutônio nos reatores nucleares que usam o dióxido como combustível deve ser repensada.

Fonte - Science, 14/01/2000

Começa a ser feito mapeamento de depósitos de risco

          Uma menina de um ano e meio que brincava com areia na porta de casa, na Baixada Fluminense. Morreu quinta – feira passada passada, intoxicada por cianeto de sódio e mercúrio – provavelmente resíduos de galvanoplastia. A 400 quilômetros de lá, em Formiga (MG), o promotor local investiga o envolvimento de 80 indústrias, inclusive Alcan e Fiat, no descarte de 80 mil toneladas de lixo em voçorocas à beira da estrada.

          Não é de hoje que estas ocorrências vêm à tona. Em 1996, por exemplo, um grupo de favelados cariocas intoxicou-se com o ascarel contido em transformadores elétricos abandonados numa subestação do metrô. Muitos deles usaram o óleo, latamente cancerígeno, para fritar pastéis.

          Outra história antiga que ficou famosa ocorreu há quase dez anos na sede da Moura, uma das maiores fabricantes de bateria do País, em Belo Jardim, a 187 quilômetros de Recife. A empresa foi acusada de ter contaminado com chumbo trabalhadores, solo e água.

          Na época, O Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco denunciou que 62,7% dos trabalhadores tinham índices superiores a 60 microgramas de chumbo por 100 milímetros de sangue, quando o aceitável era até 40 microgramas. De lá para cá esses índices caíram bastante, mas, segundo Vamberto Leite, diretor do sindicato, "ainda não se eliminou todo o problema, apesar da melhoria das condições de trabalho".

          O presidente da empresa, Edson Moura, não gosta de falar sobre o assunto que, segundo ele, lhe rendeu muitos prejuízos e problemas com os clientes. Diz apenas que cumpriu com tudo o que devia. "Estamos rigorosamente dentro dos dispositivos legais", resume.

         Apesar de antigo, o problema dos resíduos perigosos só agora começa a ser mapeado com mais cuidado. Só em São Paulo, primeiro estado a ter um levantamento mais consistente a respeito, foram identificadas 86 áreas contaminadas por organoclorados, mercúrio, metais pesados e outros resíduos industriais perigosos. Em alguns deles, houve infiltrações para o lençol freático.

          É o caso de uma variedade da Shell em Paulínia (SP), vendida para a Cyanamid Química em 1993. A transação exigiu o levantamento do passivo ambiental da fábrica, que produzia agrotóxicos. Descobriu-se então, que uma rachadura numa piscina de contenção de resíduos tinha contaminado parte do freático. A Shell teve que se encarregar do problema e construir uma estação de tratamento que processa toda a água que passa por baixo do terreno.

          Para resolver essa e outras pendências no gênero, a empresa pretende investir R$ 20 milhões anuais durante a próxima década, em unidades problemáticas espalhadas pelo País. Só para diagnosticar o problema, foram gastos outros R$ 6 milhões. "Se fizéssemos a remediação de uma só vez acabaríamos fechando", diz Christian Dobereiner gerente de Meio Ambiente da Shell.

          "As histórias que são conhecidas são apenas a ponta do iceberg", pondera Marcelo Furtado, coordenador internacional da campanha contra poluentes persistentes do Greenpeace. A organização não-governamental coleciona denúncias de que muitos dos casos oficialmente remediados ainda apresentam problemas.

          Furtado diz que o Brasil se comprometeu a fornecer, um ano atrás, uma lista completa de seus principais focos de organoclorados ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnima). Não conseguiu. No momento, a ONU está discutindo a proibição da produção de vários desses contaminantes, como o ascarel ou o pesticida DDT.

          Uma vez instalado o problema os custos para eliminá-los soa realmente altos. O caso mais famoso de contaminação industrial do País já custou à Rhodia R$ 20 milhões para remediar várias áreas em Cubatão (SP). Segundo Plínio Carvalho, gerente de comunicações da empresa, este foi o dinheiro gasto para queimar parte dos resíduos, isolar o terreno e tratar o freático de uma dezena de áreas contaminadas com hexaclorobenzeno, um organoclorado. Ao contrário da Shell, o passivo foi incorporado à Rhodia quando, em 1976, comprou a antiga Clorogil.

           Além da fortuna exigida, o esforço da recuperação de um terreno contaminado pode levar décadas – para começar e para acabar. Uma segunda unidade da Shell, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, verificou em 1993 que tinha vazamentos de um tanque de borra de óleo para as águas subterrâneas. "Com a Cetesb ( a agência ambiental paulista), concluímos que não havia como limpar o freático, mas acertamos a remoção de 145 toneladas de resíduos", diz Dobereiner. Até o fim do ano, deverão ser incineradas por cimenteiras, sete anos após a identificação do problema. "Se fosse malfeito seria ainda pior", justifica.

          As duas empresas constam no dossiê levantado pela Cetesb no passado. Alista também inclui outras gigantes, como a Solvay de Santo André e a Dow Química do Guarujá. A primeira ganhou notoriedade no ano passado quando sua cal, cheia de dioxina, foi vendida por terceiros a citricultores. A contaminação pareceu no leite de vacas alemãs alimentadas com polpa cítrica brasileira. A empresa já iniciou o esforço de redução do problema.

          No caso da Dow Química, é um derramamento de tetra cloreto de carbono, insumo que a empresa já não usa há dez anos, num terreno do Guarujá, cidade de veraneio paulista. Segundo Cláudio Fioranti, gerente de Meio Ambiente da empresa para a América Latina, desde 1994 a empresa discute a questão com a Cetesb.

          Cerca de 350 toneladas de sedimentos considerados de baixa contaminação, que estavam no interior da fábrica, já foram retirados e enviados para fornos de cimento. Entretanto, na agência ambiental informam que ainda não foi citado se a área num raio de 500 metros precisa ou não de recuperação. "De 10 ou 12 pontos de monitoramento instalados, só um mostra índices inadequados de potabilidade", diz João Antônio Romano, gerente da Cetesb encarregado de acompanhar ocorrências de contaminação do solo.

          "Estamos acompanhando vários casos como esse e alguns já estão na fase de remediação", garante o técnico. "Entretanto, às vezes é melhor e mais barato confinar a área e alterar seu uso, e não retirar todos os resíduos". Romano lembra também que ainda não existem, na legislação brasileira, parâmetros para avaliar se um terreno está ou não poluído. A Cetesb se vale de parâmetros holandeses.

Fonte: Gazeta Mercantil – 26.06.2000

Colaboração: Georane dos Santos  e  Karoline França - Expoente – João Negrão.

26 de junho de 2000

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