Fim do mundo ?

Artigo discute se é possível a Terra ser atingida por planetas, asteróides ou cometas.

Fonte - Ciência Hoje

De tempos em tempos, a imprensa traz notícias alarmantes sobre a possibilidade da queda de corpos celestes de grandes dimensões sobre a Terra. É comum que se dê destaque às conseqüências catastróficas que o impacto causaria: destruição de cidades, formação de maremotos, morte de milhões de pessoas ou até o fim da humanidade. No último mês de julho (2002), o foco da atenção foi o 2002 NT7, asteróide com cerca de 2 km de largura. Como separar o sensacionalismo e a realidade em um assunto como esse?

Nos dias que antecederam 11 de agosto de 1999, centenas de pessoas perguntaram a mim e a outros astrônomos brasileiros se aquela data 

(arte: Nasa)

representaria, de fato, o fim da Terra e, conseqüentemente, da humanidade. Seria o 'Dia do Apocalipse', segundo as profecias do médico e astrólogo provençal Nostradamus (1503-1566), resumidas em sua obra Centúrias astrológicas, de 1555 (?).

Mas o que iria ocorrer naquele dia? Para nós, astrônomos, apenas mais um eclipse total do Sol. Esse fenômeno podia de fato assustar nossos antepassados, mas hoje se sabe que, assim como a Terra gira em torno do Sol, a Lua também gira em torno da Terra. De tempos em tempos, esse satélite natural fica exatamente na linha de visada entre o Sol e a Terra, e a isso chamamos eclipse. Nada de misterioso ou perigoso.

Eclipses acontecem todos os anos. Poderíamos comparar esse fenômeno com a vida de um morador de um prédio. Ele poderá passar meses sem ver o seu vizinho, mas, um dia, os dois acabam se encontrando no elevador. No entanto, é muito mais fácil prever um 'encontro' entre dois corpos que têm um movimento que se repete periodicamente, como é o caso da Terra e da Lua. Isso pode, até mesmo, ser calculado, usando-se os conceitos de probabilidade.

Portanto, um eclipse não deveria assustar. E, em geral, não assusta ninguém... a não ser que esse alinhamento de corpos celestes esteja associado a alguma 'profecia' -- geralmente, escrita de forma bastante obscura -- sobre o fim do mundo.

Não nos cabe aqui discutir profecias. Entretanto, é nossa obrigação vir a público esclarecer que, até este momento, não há indício algum de que planetas, asteróides ou cometas possam cair sobre a Terra nos próximos 80 anos. Isso mesmo: 80 anos, pelo menos.

É bem verdade, porém, que deve haver muitos objetos que ainda nem foram descobertos e cujas órbitas são capazes de fazê-los colidir com a Terra. Mas também é verdade que, entre os objetos que os astrônomos descobrem quase todos os dias, a grande maioria é constituída por pequenos corpos que, mesmo caindo na Terra, não oferecem perigo real algum -- a menos que um deles caia sobre a cabeça de alguma pessoa, o que é muito, muito improvável.

Daniela Lazzaro,
Coordenadoria de Astronomia e Astrofísica
- Observatório Nacional