Brasil versus aquecimento global

650 cientistas elaboram inventário sobre emissão de gases de efeito estufa no país

Fonte - Ciência Hoje

Está quase pronto o primeiro inventário brasileiro sobre emissões de gases de efeito estufa por atividades humanas, anunciou o Ministério da Ciência e Tecnologia. O documento, elaborado por 650 pesquisadores de 150 instituições, deve ser apresentado em outubro na Oitava Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em Nova Déli (Índia). "Formado por 15 relatórios, o inventário é bem completo: traz estimativas sobre a produção de diversos gases", diz José Miguez, Secretário Executivo da Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima.

 

Embora alguns países não divulguem dados sobre suas emissões e nem todos usem a mesma metodologia para medi-las, estima-se que, de 1990 a 1994, o Brasil tenha sido responsável por 3% da produção mundial de dióxido de carbono, principal gás causador do efeito estufa. No entanto, se consideradas todas as emissões desse gás no decorrer da história, a responsabilidade do país é de menos de 1%. "A industrialização brasileira foi tardia e, portanto, o país só passou a gerar gases de efeito estufa em larga escala bem mais tarde que outros países", explica Miguez.

No Brasil, desmatamento, setor energético e criação de ruminantes são os maiores responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa (foto: H. Eva)

No Brasil, os maiores responsáveis por emissões de gases de efeito estufa são o desmatamento, o setor energético e a criação de animais ruminantes. Em média, estima-se que 6% de todo o alimento consumido pelo gado no mundo seja convertido em gás metano, que é liberado por eructação (arrotos dos bois).

"Se considerarmos apenas rebanhos bovinos, o Brasil tem 170 milhões de animais e cada um deles produz em média 60 quilos de metano por ano", diz Magda Lima, pesquisadora da Embrapa que participou da elaboração dos relatórios do setor agropecuário. "Estamos investigando a influência de diferentes dietas na emissão de metano por bovinos de corte e de leite." Os pesquisadores da Embrapa estudam uma alimentação alternativa que faça o gado liberar menos metano sem alterar sua produtividade.

Segundo a pesquisadora, a criação de gado é uma atividade tradicional, mas poucos conhecem o impacto ambiental que ela provoca. Assim, implementar medidas para reduzir a emissão de gases na pecuária seria uma tarefa complicada. No entanto, em outros setores da economia, o combate ao efeito estufa está acirrado. "Já houve inclusive mudanças em leis", comemora Miguez. A legislação ambiental brasileira proíbe, por exemplo, a queima de cana-de-açúcar. "Devemos destacar ainda os empreendimentos voltados ao seqüestro de carbono por meio de reflorestamento e outras práticas florestais e agropecuárias", acrescenta Lima.

Vale lembrar que, durante a Segunda Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), o Brasil, assim como outros países, se comprometeu a monitorar suas emissões de gases de efeito estufa e implementar medidas para reduzi-las. Hoje, dez anos depois, o inventário indica que o país está honrando esse compromisso.

A maioria dos relatórios do inventário já está disponível no site do Ministério da Ciência e Tecnologia