Bioterrorismo - a nova ameaça

Medo de ataque com armas químicas leva americanos e europeus a comprar máscaras contra gases

Fonte - Isto é

 

Na manhã fria de 26 de fevereiro de 1993, na cidade industrial de Paterson, no Estado de Nova Jersey, um kuaitiano alto ajeitou com extremo cuidado um bujão de plástico azul, do tamanho de um barril de chope, no compartimento de carga de uma van. Esta seria a última peça de um carregamento mortífero, que incluía uma bomba caseira de mais de 700 quilos. Horas depois, aquele veículo alugado por um egípcio com documentos falsos explodiria na garagem do World Trade Center, provocando a morte de seis pessoas e ferimentos em outras mil. Só não conseguiu cumprir a tarefa de demolir as duas torres principais daquele complexo de escritórios. Aquele seria não apenas o primeiro atentado de radicais islâmicos contra o WTC, mas também a primeira vez que uma arma química de destruição massiva era empregada contra um alvo em território americano.

 

Dentro do tonel de plástico estavam estocados cerca de 50 quilos de cianeto (o sal do ácido cianídrico), que, se ganhassem a atmosfera da zona sul de Manhattan, poderiam ter matado muito mais gente do que as que padeceram.

Paranóia causa escassez de máscaras e corrida por antibiótico

Essa tragédia somente não aconteceu porque o arremedo de bomba química era muito rústico e o cianeto queimou todo na explosão. Somente agora, oito anos depois do ataque, agentes de inteligência dos Estados Unidos estão admitindo, em voz baixa e protegidos pelo anonimato, este detalhe importante. A discrição é compreensível nesse momento em que paranóias coletivas ganham corpo na realidade. O bioterrorismo é uma ameaça concreta que apavora cidades americanas e européias. E Nova York é a cisterna onde este caos internacional é coletado.

Toque de recolher – Dois dias antes do Yom Kippur –o dia do perdão no calendário judaico, que este ano caiu na quinta-feira 27 –, os nova-iorquinos experimentaram um pouco da vida de quem mora na Cisjordânia: policiais e soldados do Exército revistavam veículos parando o tráfego em toda a cidade. O trânsito ficou tão impossível que o prefeito Rudy Giuliani decretou a proibição, entre 6h e 12h, da entrada de carros com menos de dois passageiros ao sul da rua 66 de Manhattan. Antes das pontes, as barreiras policiais vasculhavam até mesmo ônibus escolares. “Nós tínhamos ido jogar beisebol numa competição entre colégios e nosso ônibus foi parado e invadido por guardas. Remexeram até nas sacolas com nossos uniformes sujos”, diz Miles Sherman, 12 anos, estudante da exclusivíssima escola particular Horace Mann, em Riverdale. As blitze, que não têm prazo para terminar, eram justificadas pelo medo criado por dois alertas do secretário da Justiça, John Ashcroft, sobre ameaças de emprego de armas químicas, bacteriológicas e mesmo nucleares por terroristas islâmicos. Ao Congresso, ao reivindicar a aprovação de um pacote de medidas draconianas para combater o terrorismo (leia matéria à pág. 80), Ashcroft disse que o perigo era real e estava sendo investigado.

Um dos resultados dessas investigações foi a proibição, durante dois dias, imposta pela Agência Federal de Aviação (FAA), aos vôos de aeronaves de pulverização agrícola. Descobriu-se que Mohamed Atta e outros sequestradores que agiram nos atentados do dia 11 de setembro haviam se interessado por aviões pulverizadores, chegando a comparar preços e capacidades para a compra de um destes aparelhos. Cinco mil pilotos fumegadores foram obrigados a dar 48 horas de folga às pragas da lavoura. Nas investigações ficaram expostas as vísceras do corpo de transporte de substâncias perigosas em estradas americanas. A visão é horripilante: “Aprendemos que qualquer delinquente, com meros US$ 50 ou US$ 100, consegue uma carteira de motorista autorizada a transportar cargas químicas, bacteriológicas ou nucleares, atravessando cidades e zonas rurais”, disse a ISTOÉ Paul Webster, do Centro de Controle de Doenças em Atlanta.

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