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Arma biológica - a reportagem do Fantástico |
Fonte - Fantástico Segundo a polícia
americana, alguns dos envolvidos nos atentados de Washington e Nova York
tentaram conseguir um pequeno avião de pulverização agrícola. Mas para
pulverizar o quê? Onde? A notícia foi um alerta
para o mundo, mas não para Steven Block, professor da prestigiosa
universidade Stanford. No começo do ano, ele escreveu um artigo,
avisando: o chamado bio-terrorismo é uma ameaça real. Ele afirma que,
numa escala de um a dez, a possibilidade de haver um ataque biológico
contra uma grande cidade nos próximos cinco anos é sete: “Tudo depende
da forma de ataque que os terroristas escolherem. Já vimos que o método
de seqüestrar um avião e atirá-lo contra alvos como o World Trade
Center dá certo. Mas eu acredito que o próximo atentado será químico
ou biológico”, responde. As guerras químicas e
bacteriológicas têm uma triste história. Na Primeira Guerra Mundial, o
gás mostarda, uma arma química, foi amplamente usado. E foi um gás
inventado pelos nazistas nos anos 30 que a seita japonesa “Verdade
Suprema” soltou no metrô de Tóquio, em 95. Doze pessoas morreram. O gás,
chamado sarin, mata em minutos, paralisando o sistema nervoso: “Eu acho
que as armas biológicas representam risco máximo para a nossa sociedade
por causa de seu poder de destruição”, afirma o cientista. Nesse caso, vírus ou
bactérias devastadores seriam lançados sobre uma população: “Se o
agente biológico usado for contagioso, é algo muito grave, porque uma
pessoa iria passar a doença para a outra”, diz Steven Block. Teoricamente, doenças
muito mais perigosas e contagiosas, como a peste negra, o botulismo, e até
o terrível vírus ebola poderiam ser usadas como armas. Os temores dos
cientistas se concentram em duas doenças: “Qualquer especialista dirá
que as maiores ameaças no momento são o antraz e a varíola, sem a menor
dúvida”, responde o cientista. A varíola foi erradicada
oficialmente em 79, mas amostras do vírus ficaram guardadas em laboratórios
de segurança máxima nos Estados Unidos e na Rússia. Com o colapso do
império soviético, teme-se que o vírus tenha caído em mãos erradas:
“Dissidentes garantem que a antiga União Soviética desenvolveu armas
biológicas a partir de suas amostras do vírus da varíola. É bem possível
que essas armas tenham sido contrabandeadas para países como o Irã e o
Iraque. O planeta inteiro corre perigo”, alerta Steven Block. O antraz começa como uma
gripe comum e é menos contagioso, mas tem um efeito devastador. Em 1979,
um vazamento na União Soviética de miligramas matou mais de 65 pessoas. Mas nem tudo é alarmismo.
O professor Block explica que há uma série de dificuldades técnicas
para ataques químicos ou biológicos. É complicado atingir uma área
grande e, no caso de ataques biológicos, não é fácil acoplar os vírus
e bactérias a uma bomba, por exemplo. O calor da explosão destruiria
também os agentes infecciosos. E se um ataque desses
acontecesse no Brasil? Será que nós estaríamos preparados? Desafio quase invisível:
uma corrida contra o tempo. Pesquisadores tentam dominar microorganismos
que causam doenças, deixam seqüelas, matam. Os laboratórios do
Instituto Adolph Lutz, em São Paulo, um dos mais antigos do país, 300
cientistas estudas vírus e bactérias que provocam sarampo, AIDS, rubéola,
dengue, entre outras doenças: “ Todas as vezes em que ocorrem mortes atípicas,
ou não esclarecidas, a gente tem conseguido detectar a causa”, afirma
Cristiano de Azevedo Marques, diretor do Instituto. É o esforço nacional
pela pesquisa. Mas e se um ataque biológico acontecesse aqui? Nós estaríamos
preparados? “Muito mais do que as pessoas imaginam. O Brasil estando
numa área tropical, sendo um país em desenvolvimento, estamos muito mais
acostumados no trato de surtos de doenças infecciosas do que muitos
outros países, chamados de países desenvolvidos, onde esses surtos são
muito raros”, diz Roque Monteleone Neto, da comissão de segurança da
ONU. Há nove anos este
geneticista faz parte da comissão de segurança da ONU responsável pela
destruição do arsenal de armas nucleares, químicas e biológicas do
Iraque. “O cessar fogo da Guerra do Golfo foi aceito mediante condições
impostas ao governo do Iraque, que foram aceitas, e uma delas era declarar
todos os seus programas relacionados com armas de destruição em
massa”, conta Roque Neto. Foram dez visitas a
laboratórios iraquianos que apresentavam indícios de pesquisas com armas
biológicas: “Nós encontramos evidências e elas foram todas destruídas,
em 1996”, diz o geneticista. “Existem ainda dúvidas sobre a extensão
desse programa, se aquilo que foi encontrado era tudo, e é por isso que
ainda existe um impasse entre a ONU e o governo do Iraque”. Qual é o poder de
destruição das armas biológicas em comparação com as armas químicas
e nucleares? “Do ponto de vista teórico, 100 Kg do bacilo do antraz,
lançados na atmosfera, em condições ideais, provoca duas vezes mais
mortes do que uma bomba atômica. O que significa, se for um conglomerado
urbano, de dois a quatro milhões de mortes”, responde Roque Monteleone
Neto Neste momento de tensão
na área biológica, um recado aos pesquisadores brasileiros: “Não
enviem amostras de agentes infecciosos ao exterior, mesmo que a pessoa que
vá receber seja um colega seu, porque no caminho essa amostra vai passar
por muitas mãos, que nenhum dos dois conhece”, alerta o geneticista.
“Uma bomba biológica não é uma coisa que explode. Não tem nenhum
efeito pirotécnico. É um surto: uma pessoa fica doente, depois transmite
para outra e o número vai aumentando gradativamente”. “O Brasil tem competência
e tem uma infra-estrutura adequada para responder a um possível
ataque”, garante o geneticista. Assista ao vídeo
desta reportagem agora! |
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