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Notícia de 15 de outubro de 2002

Estudo da USP revela que especiarias como o orégano
e o alecrim atuam como protetores do organismo 

Fonte - Isto É
Foi sua mãe, sua avó ou a vizinha quem mandou tomar um chazinho de canela para facilitar a digestão? Bem, essa é uma crença tão antiga que provavelmente nem elas lembram com quem aprenderam a fazer uso medicinal de algumas ervas e alimentos. A velha e boa canela, nativa da Índia, é usada há uns três mil anos no tratamento de complicações digestivas, para casos de reumatismo e friagem, além do uso culinário. Outro bom exemplo é a aplicação da sálvia, famosa desde a Antiguidade como estimulante do sistema nervoso, para espantar o sono e animar. Recomendações desse tipo têm passado de geração para geração com o aval da sabedoria popular. Mas as coisas estão mudando. Não faz muito tempo, os cientistas decidiram meter a colher – ou melhor, os microscópios – nas especiarias para conhecer melhor suas propriedades e esmiuçar seus mecanismos de ação. É um ramo de pesquisa bastante promissor, que tem trazido revelações surpreendentes. 

Uma das descobertas mais recentes é que a sálvia e a canela têm mais qualidades do que se supunha, como mostra um estudo feito por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. 

Eles investigaram a erva e mais três especiarias (o orégano, o alecrim e as sementes de mostarda) durante seis anos para chegar à conclusão de que elas possuem substâncias com poder antioxidante (ou seja, conseguem impedir uma série de reações que formam toxinas capazes de provocar lesões na membrana das células). As quatro ervas interferem nos processos de oxidação dos alimentos e também no organismo, bloqueando ou diminuindo a formação dos tais radicais livres, moléculas em desequilíbrio que causam danos às células de vegetais, animais e seres humanos. “Essas plantas protegem os alimentos da deterioração e, após o consumo, exerceram o mesmo tipo de efeito no organismo de animais”, garante o bioquímico Jorge Mancini Filho, diretor da faculdade e coordenador da pesquisa. Ele explica que as substâncias presentes nas ervas repetiram o efeito protetor no organismo humano.

Os agentes dessa ação terapêutica fazem parte de uma categoria de nutrientes mais ou menos nova, os compostos fenólicos,  encontrados também em alimentos como a uva e a soja, entre outros. Mancini diz que agem de modo semelhante às vitaminas C, E e os carotenóides, que se transformam em vitamina A no corpo. O resultado do estudo da USP é mais uma contribuição aos interessados em seguir uma dieta saudável. Desse modo, é possível selecionar alimentos que ajudam a retardar o envelhecimento e a prevenir doenças degenerativas, como a arteriosclerose.

A revelação dos superpoderes dessas especiarias também deixou os amantes da boa mesa contentes. O chef francês Erick Jacquin, que assina o cardápio do charmoso Café Antiqüe, em São Paulo, comemorou. “É uma notícia fabulosa”, disse Jacquin, que prepara um livro sobre ervas com indicações gastronômicas. Sua paixão pelas especiarias transparece em pratos como o linguado servido com uma inebriante salada de ramos de alecrim, cerefólio (espécie de salsa), manjericão americano, coentro e cebolinha francesa, temperada apenas com azeite e sal. A delícia aromática, porém, causa alguns impasses à mesa. “Vários clientes deixam a salada no prato porque pensam que as ervas são decorativas! Eu os incentivo a saboreá-las”, reclama Jacquin. Se depender dos pesquisadores, os consumidores de fato terão de se acostumar rapidamente com a presença dessas folhinhas perfumadas na comida. Diversas universidades estão estudando especiarias como a erva-doce, o cravo, a noz-moscada, o aipo, a pimenta, o coentro, a cebolinha verde e o cominho para identificar os tais compostos protetores. Além disso, estão quase seguros dos poderes anti-radicais livres de dois frutos regionais brasileiros, a castanha-de-caju e a castanha-do-pará. De agora em diante, a saúde à mesa terá mais sabor.

Chá poderoso

As sementes de mostarda, erva-doce e canela estão na mira da indústria alimentícia. A responsável por esse interesse é a nutricionista Ana Vládia Moreira, 28 anos, uma professora da Universidade Federal de Natal que acaba de conquistar o título de doutora depois de defender uma tese sobre os poderes antioxidantes das três especiarias, que estuda há seis anos. “A combinação da erva-doce, canela e semente de mostarda é perfeita porque uma potencializa o efeito antioxidante da outra, com excelente ação em alimentos”, diz Vládia. A intenção é aplicar as três, num futuro não muito distante, em substituição a alguns aditivos sintéticos, como o BHT, colocados hoje em dia para proteger os alimentos da oxidação. Sobre esses aditivos paira a suspeita de que não sejam totalmente eliminados pelo organismo. Atualmente, apenas o extrato de alecrim já foi testado e está sendo aplicado em produtos alimentícios. A nutricionista também espera terminar em breve os testes com a mistura protetora para o lançamento de saches de chá. Para usufruir dos efeitos, ela diz que basta uma xícara por dia.