Durante
dez dias, os chefes de Estado, líderes governamentais e
ambientalistas deverão discutir as questões prioritárias, segundo
a Organização das Nações Unidas (ONU), entre elas aquecimento
global, desmatamento, escassez de água potável, produtividade agrícola,
energia, clima e pobreza. Para obter resultados concretos, é
essencial o consenso entre as partes. Aí aparece o primeiro
impasse. A delegação americana, que já obstou o acordo que visa
reduzir a emissão de poluentes que agravam o efeito estufa, por
exemplo, negocia com apenas um objetivo: evitar a fixação de
datas, seja qual for o compromisso. O país teme ser obrigado a
responder na Justiça pelo eventual atraso no cumprimento das metas.
Para piorar, as nações produtoras de petróleo se recusam a
discutir avanços na produção de energias alternativas aos
derivados de petróleo.
|
|
O
pior embate, no entanto, envolveu o alto padrão de consumo das nações
ricas, em particular o gasto de água e de energia. Delegações
americanas e européias se esquivaram de acertar objetivos econômicos,
como a redução dos subsídios a seus agricultores, um mecanismo
para tornar mais competitivos os produtos dos países em
desenvolvimento.
O
maior congresso da história das Nações Unidas atraiu 64 mil
pessoas de 191 países. Nesta semana, quando desembarcam em
Johnnesburgo cerca de 100 chefes de Estado para as rodadas decisivas
de negociação, a segurança armada deve reservar um espetáculo à
parte. Para evitar que as manifestações ecológicas, até agora
pacíficas, descambem para a violência, a precaução foi
redobrada. A terceira maior cidade sul-africana nunca abrigou tantos
turistas. As sessões da Rio + 10 estiveram lotadas, deixando muita
gente irritada do lado de fora, assim como aconteceu nos hotéis,
literalmente abarrotados. A solução foi o improviso.
Quase
duas centenas de pessoas foram obrigadas a acampar numa reserva ecológica
a 45 minutos do centro de convenções. Cercado por antílopes,
girafas e gnus, o brasileiro Paulo Moutinho era um dos hóspedes da
savana. O coordenador de pesquisas do Instituto Ambiental da Amazônia
(Ipam) só reclamou do frio cortante, que durante a madrugada fica
abaixo de zero, e do triste recorde brasileiro de desmatamento na
Amazônia. Há uma década, as queimadas destruíam 11 mil quilômetros
quadrados ao ano. Em 2000, esse índice saltou para 17.600 quilômetros
quadrados. O avanço da soja, das fazendas de gado e da exploração
madeireira dizimou uma área do tamanho da França e da Bélgica
juntas. A queima da Amazônia resulta num prejuízo anual de US$ 5
bilhões, segundo cálculos do Ipam. “Nas margens das estradas é
que está concentrado o forte do desmatamento”, explica Moutinho.
Além
de definir o destino da maior floresta tropical do mundo, o Brasil
assumiu posição de liderança na discussão das fontes renováveis
de energia, que são menos poluentes do que os derivados do petróleo
porque sua combustão é compensada pela natureza. Uma das metas da
equipe de FHC é propor aos países que 10% de sua energia venha de
fontes alternativas, como o álcool, a energia solar e a eólica,
obtida a partir do vento.
Apesar
das dificuldades, um passo importante já foi dado. No segundo dia
da Rio + 10, os delegados chegaram a um consenso para resolver a
crise pesqueira. O acordo estipula que as áreas mais ameaçadas
pela atividade humana sejam restabelecidas até 2015, o que inclui a
redução da pesca em algumas regiões e a reabilitação de outras.
De acordo com a ONU, mais de um quarto das áreas pesqueiras é
explorado acima de sua capacidade de regeneração. Só se espera
que esse não seja o único sucesso em Johannesburgo.
|