O programa, liderado pela
Sanepar, funciona em
Curitiba e Foz do Iguaçu, reciclando cerca de um terço do lodo
produzido no estado. A previsão é de que, a partir do ano que vem,
com a extensão para outros municípios, metade do lodo gerado no
Paraná seja transformado em insumo agrícola.
O lodo é um resíduo poluente
resultante do processo de tratamento de esgoto. Ele é formado pelos
microrganismos que se alimentam da matéria orgânica (fezes) do
esgoto. Dependendo do processo adotado, o lodo representa de 1% a 2%
do volume do esgoto tratado. A gestão desse resíduo, porém, é
considerada a parte mais difícil e onerosa da operação de uma estação
de tratamento de esgoto. Pode representar de 20% a 60% do custo
operacional de uma estação, segundo o coordenador do Programa
Interdisciplinar de Pesquisa em Reciclagem Agrícola de Lodo,
Cleverson Andreoli.
No Brasil, a destinação adequada do lodo de esgoto ainda é um
problema. O resíduo costuma ficar armazenado em lagoas de secagem ao
redor das estações de tratamento, muitas vezes em condições precárias.
Isso quando não é distribuído sem higienização para produtores
agrícolas ou mesmo lançado em rios.
O Paraná decidiu adotar uma solução que, de acordo com Andreoli, já
é largamente utilizada em países desenvolvidos. "Nos Estados
Unidos, 55,5% do lodo vão para uso agrícola e na Europa, 40%",
afirma. De acordo com ele, o insumo agrícola resultante do lodo
melhora as condições físicas, químicas e biológicas dos solos,
gera economia para o produtor e melhora a produtividade.
"O lodo é rico em nitrogênio e fósforo e por isso reduz o uso
de fertilizantes. Fica faltando apenas a complementação com potássio",
explica Andreoli. O engenheiro agrônomo Benno Henrique Doedzer,
gerente adjunto da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Emater) na região metropolitana de Curitiba, dá um exemplo: em cada
hectare plantado com milho, é preciso aplicar de cinco a seis sacos
de uréia. Com o uso do lodo, só nesse item o produtor economiza até
R$ 150 por hectare. Também deixa de gastar em torno de R$ 200 por
hectare com calcário.
Estudos feito entre 1994 e 1997 mostraram que o aumento de
produtividade nas áreas tratadas com lodo alcançou média de até
54%. O produtor Vanderlei Fior, de Campo Largo, na região
metropolitana, aplicou o fertilizante à base de lodo em 9,6 hectares.
"De uma produção de 80 sacos por hectare, passei para
140", diz.
Além de Fior, outros 64 pequenos produtores da região receberam o
produto nos últimos três anos, num total de 40 mil toneladas. A
produção na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Belém é de mil
toneladas por mês, o que representa quase um terço do lodo do
estado. Segundo Doedzer, a área total tratada com lodo é de 800
hectares. O agrônomo diz que mesmo em propriedades mais tecnificadas
há ganho de produtividade, embora menor, na faixa de 20%. "Além
de fornecer nutrientes, o lodo é um excelente condicionante do solo,
tornando-o mais preparado para situações adversas, como a
seca", afirma.
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