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Notícia de 30 de novembro de 2001

Ingestão contínua de urânio afeta medula  

Fonte - Ciência Hoje

Presente em produtos agrícolas, substância 'imita' cálcio e se deposita nos ossos.

A ingestão crônica de urânio, isto é, em pequenas doses diárias por período prolongado, pode afetar a medula óssea e, em alguns casos, levar ao desenvolvimento de certos tipos de câncer, como osteosarcoma e leucemia. A descoberta foi feita em pesquisa desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Universidade de Santo Amaro (Unisa), coordenada pelo físico João Arruda Neto, professor da USP. Esse é o primeiro estudo sobre a contaminação crônica por urânio. Investigações anteriores só haviam avaliado os efeitos de doses únicas e agudas da substância.

O urânio é um elemento natural encontrado na crosta terrestre. Ele aparece associado ao fósforo e tem propriedades químicas semelhantes às do cálcio. Vegetais absorvem pelas raízes o urânio do solo. Animais que se alimentam de plantas também se contaminam. Nos vertebrados, os ossos são os órgãos com maior concentração de cálcio. Por isso, o urânio ingerido se instala preferencialmente no esqueleto e não nos músculos. Logo, a principal fonte de contaminação para o homem são produtos agrícolas e não de origem animal.

Quando alguém recebe por acidente uma única e elevada dose de urânio, o sistema linfático tem tempo de retirar a substância da circulação antes que ela provoque sérios prejuízos. Nesses casos, o urânio se deposita apenas na superfície dos ossos. "No entanto, se a ingestão for contínua, o sistema linfático não consegue depurar o organismo e o urânio chega à medula óssea", diz Arruda Neto.

Para traçar o paralelo entre ingestões agudas e crônicas, o pesquisador utilizou como modelo experimental cães da raça beagle, cuja resposta ao urânio é similar à de humanos. Entre três meses e um ano de vida, os cães receberam doses diárias da substância. Em seguida, foram sacrificados e seus ossos submetidos à análise nuclear. Os resultados mostraram que já havia depósitos de urânio na medula dos cães. Alguns, porém, pararam de ingerir urânio com um ano de idade e só foram sacrificados mais tarde. "A medula óssea desse grupo de beagles apresentou prejuízos menores", afirma Arruda Neto. "Isso indica que a contaminação é parcialmente reversível."

Interromper a ingestão é a única forma de tratar o problema. Drogas não são apropriadas, pois, se eliminassem o urânio, também removeriam o cálcio -- necessário ao bom funcionamento do organismo. Diagnosticar precocemente a contaminação é muito difícil: a análise nuclear para determinar o conteúdo de urânio nos ossos não é um exame corriqueiro.

Por isso, a maioria das pessoas só descobre o problema quando o organismo já apresenta altos níveis de urânio. "Mas não devemos ser alarmistas", comenta Arruda Neto. "A maioria dos produtos está dentro das regulamentações." No Brasil, o limite de urânio em alimentos é de três miligramas por quilo, mas o ideal seria não haver nenhuma contaminação.