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Notícia de 10 de novembro de 2001

A "terrível" droga EasyDate

Fonte - O Globo - do colunista Carlos Alberto Teixeira

Nota do professor Cesar - Recentemente o renomado colunista Carlos Alberto Teixeira do jornal O Globo e da Globonews, manteve contato conosco sobre mais uma das "invenções" que circulam na internet, e nos alertou sobre os cuidados que devemos ter ao repassar por e-mail informações como essas. Transcrevemos na íntegra a coluna publicada no jornal o Globo e fica o alerta a todos.

O mais recente embuste circulando via email é o da assustadora droga EasyDate. 

Melhor transcrevê-lo aqui para que a leitora logo o reconheça, pois quase certamente irá recebê-lo em sua caixa de correio. Faço-o constar como na versão original, em português de Portugal: “Uma nova droga arrasadora fez a sua aparição na Europa. O nome dela: ‘EasyDate’, e vão já perceber por que esse nome. (a) Ela apresenta-se na forma de um pó branco que uma vez dissolvido em QUALQUER líquido actua em cinco a sete minutos. Ela é incolor, e não tem qualquer gosto. (b) Ela age ao nível do pré-consciente, e transforma a pessoa que a tomar num escravo perfeito. Tem como efeito secundário apagar da memória tudo o que se fez, disse ou sentiu durante o tempo de actuação, que se prolonga durante sete a oito horas. Uma estudante de 24 anos (vamos chamá-la Julie) testemunha que foi convidada pelo seu melhor amigo a um jantar entre amigos. Bebeu vinho com o jantar e diz que não se lembra de nada. Só se lembra de acordar no dia a seguir na cama dum quarto desconhecido ao lado de uma pessoa estranha. Como tinha dificuldades em mexer as pernas (último efeito da EasyDate), telefonou para o seu companheiro, que a foi buscar e a levou ao hospital.
“Os médicos, depois dos exames, não detectaram o rasto de qualquer droga. E foi só o exame ginecológico que revelou o rasto de esperma de três homens diferentes. Infelizmente, o facto de não haver équimoses na pele, tal como na estrangulação, não deixa provar que Julie foi violada, e o seu agressor não foi citado pelo Tribunal. (c) Esta droga ‘separa’ a mente do corpo. A pessoa fica consciente, e em controle total do seu corpo, mas fica completamente controlável e executa qualquer ordem que lhe é dada, como levantar dinheiro a um Multibanco, passar cheques de valores astronómicos, ou participar em órgias sexuais. (d) O que verdadeiramente dificulta o trabalho da polícia é que os componentes de base de fabrico dessa droga encontram-se em qualquer farmácia, e são vendidos a qualquer um sem receita médica, como a aspirina.
“(e) Ainda não existe nenhum 'antídoto' para esta droga. A única coisa que podemos fazer é dar-lhes os seguintes conselhos: (1) Numa discoteca, festa ou jantar, não larguem o seu copo para ir dançar e voltar a beber nele; se o fizeram então vão buscar outro copo, porque ninguém sabe o que lhe fizeram enquanto tinha as costas viradas; (2) Vão buscar o seu copo directamente ao bar e nunca, NUNCA aceitem um copo da mão duma pessoa (amigo ou desconhecido). Lembrem-se que 74% dos violadores são violadores ocasionais que aproveitam a ocasião que lhes é oferecida; (3) Entre amigos, vigiem-se uns aos outros. Os primeiros sintomas físicos desta droga são suores e a cara que fica vermelha. Se um(a) dos(as) seus amigos(as) tiver estes sintomas, não o(a) abandonem, e levem-no (a) de imediato para um hospital.”
Convenhamos, a obra é um primor de criatividade. Como já era de se esperar, não existe qualquer outra referência na web a esta droga. É um típico hoax, que começou a circular em Portugal no início de 2001. Por volta de março foram adicionados ao final do texto os dados de um certo Dr. Pedro Filipe D. L. Pires, da Universidade Nova Lisboa em Oeiras, Portugal, com várias informações para contato. Se alguém de lá tivesse ligado logo para o cavalheiro, ele teria imediatamente esclarecido que seu nome foi usado em vão e que o alarme é falso, evitando a insistente propagação do boato. Falei pessoalmente com ele por telefone, sujeito muito atencioso por sinal, e ficou tudo claro. Em março, ele enviou a mensagem para sua esposa e alguns amigos e, daí por diante, o texto vazou e passou a circular sempre com seus dados ao final.
Mas a segunda parte do caso é a mais curiosa. Um brasileiro espertinho resolveu “tropicalizar” o hoax e lançou a versão nacional. Alterou, tanto quanto soube, a grafia portuguesa para brasileira: actua/atua, actuação/atuação, rasto/rastro, facto/fato, astronómicos/astronômicos e directamente/diretamente. Mudou o pseudônimo da estudante de Julie para Janete e inventou que ela é de Araçatuba, SP. No texto português, seu melhor amigo a chamou para um jantar entre amigos, em que ela bebeu vinho. Na versão brasileira, foi uma amiga que a convidou a uma casa noturna, onde ela bebeu algumas caipirinhas e dançou a valer. O “quarto desconhecido” onde ela foi parar virou um “quarto de motel” e, em vez de acordar ao lado de uma pessoa estranha, acordou ao lado de “uns quatro homens”. O companheiro que a acudiu virou namorado. O “rastro” nela encontrado na versão portuguesa era de três homens diferentes, enquanto na brasileira era de vinte homens. (Uau!) Na versão portuguesa, a pessoa fica consciente e em controle total do corpo. Na brasileira fica inconsciente e sem controle total do corpo. “Tirar dinheiro a um Multibanco” virou “tirar dinheiro em um caixa eletrônico”. Quanto ao tal doutor, seu nome foi levemente alterado, mas seus dados foram substituídos por invencionices: virou funcionário do Instituto Médico Legal de São Paulo. Juntaram a ele o nome duma outra doutora e pimba, lá se foi o hoax adiante. Tem circulado com força total entre adolescentes, tanto aqui quanto lá em Portugal. Em 17 de abril deste ano, um camarada chegou a postar anonimamente na Usenet, no newsgroup “alt.drugs.chemistry”, um pedido em inglês para que alguém o ensinasse a produzir EasyDate, referindo-se à suposta droga com uma intimidade que pressupunha que todos deveriam conhecê-la. Não obteve uma resposta sequer.
Sempre que lhe chegar via email um alarme como este, trazendo dados para confirmação, se a leitora der um rápido telefonema para checar a história, estará prestando à comunidade um serviço mil vezes mais útil do que simplesmente sair repassando o hoax feito uma papagaia. Procure também ler o texto com espírito crítico bem aguçado. Se por acaso chegar à sua caixa de entrada esta história específica sobre a droga EasyDate, faça o favor de enviar de volta à pessoa uma mensagem curtinha pedindo que avise a seus amigos de que se trata de uma lorota e, se possível, informando o seguinte URL, que traz o texto desta coluna de hoje: stop.at/cat/