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Notícia de 5 de julho de 2001

Indústria do tabaco está de olho na maconha

Fonte - Bloomberg Brasil

Esqueça a China. O próximo grande mercado, esperando para ser explorado pela Philip Morris Cos., British American Tobacco Plc e R.J. Reynolds Tobacco Holdings Inc. é a Grã-Bretanha - com a venda de maconha, não de tabaco.

A atitude do governo do Reino Unido em relação às drogas está mudando e há dois motivos para se esperar que o uso da cannabis seja legalizado nos próximos anos. Primeiro, os legisladores estão se convencendo de que a atual política de drogas não funciona: o número de usuários não diminuiu e os crimes relacionados ao uso de drogas continuam crescendo.

E o que é mais importante, o governista Partido Trabalhista se comprometeu a gastar mais dinheiro em serviços de saúde. Permitir o uso recreativo de drogas criaria uma nova gama de produtos tributáveis. Há forma melhor de gerar receita adicional dos chamados impostos sobre os pecados do que sancionar alguns novos pecados?

Ou um velho pecado. Segundo o web-site da revista High Times, os primeiros relatos do uso de maconha foram feitos pelo historiador grego Heródoto. Escrevendo em torno de 440 a.C., sobre os ritos funerários de Cítia, região que abrangia grande parte da Rússia Asiática e Européia, Heródoto registrou que "os cítios jogavam sementes de cannabis sobre pedras em brasa. Ela queima e solta golfadas de fumaça que não podem ser equiparadas por nenhum banho de vapor grego. Os cítios uivam de alegria nesses banhos de vapor."

Punições simbólicas

A partir dessa semana, a polícia do município de Lambeth, ao sul de Londres, decidiu que os fumantes pegos com porte de maconha terão a droga confiscada e serão repreendidos, mas não serão mais presos nem indiciados.

Mo Mowlam, que já foi o ministro do Reino Unido responsável pela política de drogas do país, escreveu no domingo, em uma coluna de jornal, que a cannabis deve ser legalizada, preparando o terreno para que produtos testados pelo governo comecem a ser vendidos. "Considero totalmente irracional descriminalizar a cannabis sem acompanhar a sua comercialização. Seria um absurdo ter criminosos controlando o mercado de uma substância de uso legal."

Em um artigo na edição de quarta-feira do jornal Guardian, Keith Morris, embaixador britânico na Colômbia entre 1990 e 1994, afirmou que a guerra contra os narcóticos é invencível e deve ser abandonada. "Houve uma mudança cultural que fez com que o uso recreativo de drogas seja visto pela geração mais jovem como algo normal", escreveu Morris. "As leis não podem mudar isso. Tudo o que podem fazer é criar uma indústria do crime que movimenta US$ 500 bilhões e tem conseqüências devastadoras em todo o mundo. Está na hora de começarmos a discutir como as drogas podem ser controladas com mais eficácia, dentro de uma estrutura legal."

Baratos mais baratos

O Guardian estima que 250 gramas de resina de cannabis marroquina custam menos de 400 libras esterlinas, abaixo das 630 libras que custavam há quatro anos. Um cigarro de maconha custa cerca de 1 libra esterlina, quase cinco vezes mais do que o preço de varejo de um cigarro de tabaco de marca.

O governo britânico espera uma receita de cerca de 7,6 bilhões de libras dos impostos sobre os produtos de tabaco, no próximo exercício financeiro. O valor é maior do que o obtido com impostos sobre vinhos, bebidas alcoólicas destiladas e cerveja, e se compara a uma arrecadação total de cerca de 106 bilhões de libras esterlinas.

A cannabis é definida como uma droga da Classe B, pela Lei de Uso Indevido de Drogas, de 1971. Nos termos da lei, mesmo uma pessoa com câncer, que fuma cannabis para aliviar as dores da doença, pode ser processada judicialmente. Além disso, o Reino Unido é signatário da Convenção Unitária de Drogas Narcóticas da Organização das Nações Unidas e, portanto, qualquer mudança nas leis que regulamentam o assunto quebraria esta convenção.

Caminhando a passos lentos

É improvável que o governo acabe repentinamente com a proibição ao uso da cannabis. Ele deve começar relaxando as restrições sobre seu uso como produto medicinal.

Em março, a comissão de ciência e tecnologia da Câmara dos Lordes declarou que a lei deveria ser mudada, para permitir aos médicos prescrever analgésicos baseados em cannabis, logo que estes tratamentos sejam desenvolvidos, sem necessidade de se esperar por dois ou três anos de testes.

A Grã-Bretanha agora tem uma empresa de cannabis com ações negociadas em bolsa. A GW Pharmaceuticals fez sua estréia no mercado na Bolsa de Investimentos Alternativos de Londres, em 28 de junho. A empresa tem uma licença especial do governo que lhe permite plantar cannabis, com a qual tenta desenvolver remédios para tratar as dores causadas pela esclerose múltipla e o câncer. Ela é a única companhia do mundo com licença para produzir cannabis para uso farmacêutico.

Houve demanda suficiente pela oferta pública inicial das ações da empresa para levantar 25 milhões de libras esterlinas, bem mais do que a meta inicial de 16 milhões de libras. A ação, no entanto, despencou para fechar em 161,5 pences, ontem, depois de ser vendida por até 182 pences.

A Philip Morris anunciou em abril que seus lucros aumentaram 4%, para US$ 2,09 bilhões, ou US$ 0,94, por ação, com um crescimento de 12% nas vendas para US$ 22,4 bilhões. A ação valorizou-se mais de 70% no ano passado, favorecida pelas vitórias das fabricantes de cigarros em vários processos impetrados por fumantes. A RJR Reynolds registrou alta de mais de 90% no ano passado, enquanto a BAT avançou mais de 22%.

Imagine o estímulo aos ganhos, se um país do Grupo dos Sete permitir que as fabricantes de cigarro usem sua máquina de marketing para vender cigarros de cannabis.