Indústria do tabaco está de olho na maconha
Fonte - Bloomberg
Brasil
Esqueça a China. O próximo grande mercado,
esperando para ser explorado pela Philip Morris Cos., British American Tobacco Plc e R.J.
Reynolds Tobacco Holdings Inc. é a Grã-Bretanha - com a venda de maconha, não de
tabaco.
A atitude do governo do Reino Unido em relação às drogas está mudando e há dois
motivos para se esperar que o uso da cannabis seja legalizado nos próximos anos.
Primeiro, os legisladores estão se convencendo de que a atual política de drogas não
funciona: o número de usuários não diminuiu e os crimes relacionados ao uso de drogas
continuam crescendo.
E o que é mais importante, o governista Partido Trabalhista se comprometeu a gastar
mais dinheiro em serviços de saúde. Permitir o uso recreativo de drogas criaria uma nova
gama de produtos tributáveis. Há forma melhor de gerar receita adicional dos chamados
impostos sobre os pecados do que sancionar alguns novos pecados?
Ou um velho pecado. Segundo o web-site da revista High Times, os primeiros relatos do
uso de maconha foram feitos pelo historiador grego Heródoto. Escrevendo em torno de 440
a.C., sobre os ritos funerários de Cítia, região que abrangia grande parte da Rússia
Asiática e Européia, Heródoto registrou que "os cítios jogavam sementes de
cannabis sobre pedras em brasa. Ela queima e solta golfadas de fumaça que não podem ser
equiparadas por nenhum banho de vapor grego. Os cítios uivam de alegria nesses banhos de
vapor."
Punições simbólicas
A partir dessa semana, a polícia do município de Lambeth, ao sul de Londres, decidiu
que os fumantes pegos com porte de maconha terão a droga confiscada e serão
repreendidos, mas não serão mais presos nem indiciados.
Mo Mowlam, que já foi o ministro do Reino Unido responsável pela política de drogas
do país, escreveu no domingo, em uma coluna de jornal, que a cannabis deve ser
legalizada, preparando o terreno para que produtos testados pelo governo comecem a ser
vendidos. "Considero totalmente irracional descriminalizar a cannabis sem acompanhar
a sua comercialização. Seria um absurdo ter criminosos controlando o mercado de uma
substância de uso legal."
Em um artigo na edição de quarta-feira do jornal Guardian, Keith Morris, embaixador
britânico na Colômbia entre 1990 e 1994, afirmou que a guerra contra os narcóticos é
invencível e deve ser abandonada. "Houve uma mudança cultural que fez com que o uso
recreativo de drogas seja visto pela geração mais jovem como algo normal", escreveu
Morris. "As leis não podem mudar isso. Tudo o que podem fazer é criar uma
indústria do crime que movimenta US$ 500 bilhões e tem conseqüências devastadoras em
todo o mundo. Está na hora de começarmos a discutir como as drogas podem ser controladas
com mais eficácia, dentro de uma estrutura legal."
Baratos mais baratos
O Guardian estima que 250 gramas de resina de cannabis marroquina custam menos de 400
libras esterlinas, abaixo das 630 libras que custavam há quatro anos. Um cigarro de
maconha custa cerca de 1 libra esterlina, quase cinco vezes mais do que o preço de varejo
de um cigarro de tabaco de marca.
O governo britânico espera uma receita de cerca de 7,6 bilhões de libras dos impostos
sobre os produtos de tabaco, no próximo exercício financeiro. O valor é maior do que o
obtido com impostos sobre vinhos, bebidas alcoólicas destiladas e cerveja, e se compara a
uma arrecadação total de cerca de 106 bilhões de libras esterlinas.
A cannabis é definida como uma droga da Classe B, pela Lei de Uso Indevido de Drogas,
de 1971. Nos termos da lei, mesmo uma pessoa com câncer, que fuma cannabis para aliviar
as dores da doença, pode ser processada judicialmente. Além disso, o Reino Unido é
signatário da Convenção Unitária de Drogas Narcóticas da Organização das Nações
Unidas e, portanto, qualquer mudança nas leis que regulamentam o assunto quebraria esta
convenção.
Caminhando a passos lentos
É improvável que o governo acabe repentinamente com a proibição ao uso da cannabis.
Ele deve começar relaxando as restrições sobre seu uso como produto medicinal.
Em março, a comissão de ciência e tecnologia da Câmara dos Lordes declarou que a
lei deveria ser mudada, para permitir aos médicos prescrever analgésicos baseados em
cannabis, logo que estes tratamentos sejam desenvolvidos, sem necessidade de se esperar
por dois ou três anos de testes.
A Grã-Bretanha agora tem uma empresa de cannabis com ações negociadas em bolsa. A GW
Pharmaceuticals fez sua estréia no mercado na Bolsa de Investimentos Alternativos de
Londres, em 28 de junho. A empresa tem uma licença especial do governo que lhe permite
plantar cannabis, com a qual tenta desenvolver remédios para tratar as dores causadas
pela esclerose múltipla e o câncer. Ela é a única companhia do mundo com licença para
produzir cannabis para uso farmacêutico.
Houve demanda suficiente pela oferta pública inicial das ações da empresa para
levantar 25 milhões de libras esterlinas, bem mais do que a meta inicial de 16 milhões
de libras. A ação, no entanto, despencou para fechar em 161,5 pences, ontem, depois de
ser vendida por até 182 pences.
A Philip Morris anunciou em abril que seus lucros aumentaram 4%, para US$ 2,09
bilhões, ou US$ 0,94, por ação, com um crescimento de 12% nas vendas para US$ 22,4
bilhões. A ação valorizou-se mais de 70% no ano passado, favorecida pelas vitórias das
fabricantes de cigarros em vários processos impetrados por fumantes. A RJR Reynolds
registrou alta de mais de 90% no ano passado, enquanto a BAT avançou mais de 22%.
Imagine o estímulo aos ganhos, se um país do Grupo dos Sete permitir que as
fabricantes de cigarro usem sua máquina de marketing para vender cigarros de cannabis.
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