Alerta
Brinquedo vendido livremente em shoppings da cidade coloca em risco a vida
do consumidor
Fonte - Gazeta
do Povo
Um simples frasco de spray
com buzina, conhecido como Gas Horn (propano), comumente usado em jogos de
futebol e até nas festas de carnaval como brinquedo, pode se tornar uma
arma letal se manipulado indevidamente. O uso é destinado especificamente
para provocar o barulho, no entanto, há quem já tenha descoberto outras
finalidades para o produto, sem conhecer suas reais conseqüências. O
meio para que a buzina, acoplada ao bico do frasco seja acionada é
através do gás propano, que caso seja inalado provoca a morte por
asfixia mecânica.
O drama desta experiência
foi vivido pela família da estudante Rafaela Machado David, de 16 anos. A
adolescente inalou o jato do gás de um frasco de Gas Horn, vendido em
shoppings por R$ 15 ou em um kit de R$ 25, e teve morte instantânea.
Segundo familiares, Rafaela desconhecia os perigos do produto e teria sido
induzida por um colega, acusado de estar vendendo cada " cheiradinha"
por R$ 1. A promessa era de que o efeito provocaria uma sensação
alucinógena.
Versões
Quando Rafaela inalou o
gás propano - um composto comburente -, teve uma convulsão que, segundo
testemunhas, durou apenas um minuto. Como conseqüência, as vias aéreas
foram obstruídas impedindo sua respiração, e sem oxigênio, sofreu
hemorragias em alguns órgãos vitais.
O fato ocorreu em 12 de
abril passado, às 19h20, a duas quadras de sua casa, na Rua Euzébio da
Motta, Juvevê. Naquela ocasião, um dos amigos da adolescente, apontado
como sendo a pessoa que ofereceu o spray, informou à polícia que Rafaela
havia ingerido uma overdose de cocaína. Essa versão sustentada pelo
acusado tumultuou um pouco as investigações, ao mesmo tempo em que o
boletim de ocorrência confeccionado por soldados da Polícia Militar, que
atenderam o caso no local, descrevia que se tratava de morte natural.
Somente 77 dias depois do
episódio o laudo pericial emitido pelo Instituto Médico Legal de
Curitiba concluiu que a adolescente teve morte causada por inalação
exógena (que está na superfície) de gás propano.
Imagem
A mãe de Rafaela, Heloísa
Machado Armando, diz que tem um único objetivo: "Entrar nessa
batalha para limpar o nome filha". Isso porque Heloísa teve que
conviver com a suspeita de que a adolescente era viciada em cocaína. Com
o laudo em mãos, a mãe da vítima resolveu esclarecer o caso, que passou
a ser investigado pela Delegacia de Homicídios. Nos exames
toxicológicos, deram negativos os resultados sobre qualquer hipótese de
uso de barbitúricos, psicotrópicos e cocaína no sangue da garota.
Mesmo admitindo saber que a
estudante havia sido usuária de maconha durante um período, Heloísa
garante que a garota estava longe das drogas. "O que mais me dói é
saber que as pessoas chegaram a comentar que minha filha era chefe de uma
gangue de viciados no Juvevê", desabafou a mãe, que pretendia doar
os órgãos da jovem, que não puderam ser transplantados em razão de
terem sido atingidos pelo gás. "Nem as córneas puderam ser doadas.
Minha filha ficou totalmente inchada", revelou Heloísa.
Companhias
De acordo com relato de
familiares da adolescente - que cursava o primeiro ano do ensino médio em
um colégio estadual -, ela saiu de casa com uma amiga, por volta das 19h.
A mãe era contrária a saída da filha com a colega, suspeita de estar
envolvida com drogas. Contudo, Rafaela prometeu retornar em breve.
Heloísa disse que 20
minutos depois, uma senhora a procurou em sua casa avisando que sua filha
havia sofrido um desmaio. Desesperada, a mulher foi até o local com um
irmão e encontrou a adolescente caída no chão, sendo atendida por
socorristas do Siate, que constataram que sua filha havia morrido.
Uso correto afasta perigo
O setor de química o
Instituto de Criminalística do Paraná informa que o gás propano, cuja
substância é encontrada no butijão de cozinha, não tem propriedade
intoxicante. Não é um composto perigoso, se for usado de forma correta.
No caso do Gas Horn, que não apresenta a formulação na embalagem, os
peritos ainda estão em fase de análises do produto. Porém, os médicos
alertam que se o propano for inalado inadequadamente pode causar asfixia
mecânica, como aconteceu com Rafaela.
Amigo da vítima poderá
ser indiciado por homicídio
O inquérito que apura a
morte da estudante Rafaela Machado David, 16, ocorrida em 12 de abril
passado, por intoxicação aguda na inalação de gás propano, está a
cargo da delegada Vanessa Alice, da Homicídios. Ela encaminhou na semana
passada um frasco do produto que a menor teria inalado (um tubo de Gas
Horn, que produz som de buzina) para o Instituto de Criminalística,
pedindo exames que confirmem que o propano é usado na confecção do
brinquedo. "Quando o exame confirmativo estiver pronto, a pessoa que
deu o gás para a menina cheirar será indiciada em inquérito por
homicídio culposo", explicou a policial.
A pessoa a que se refere a
delegada é um jovem morador próximo à casa da adolescente, que fazia
parte da turma freqüentada por Rafaela. O suspeito ainda não foi ouvido
na delegacia, o que deverá acontecer na próxima semana. Porém, os
parentes de Rafaela - já interrogados - afirmam que o pai do rapaz
confirmou que ele possuía a buzina e inclusive mostrou onde ele a havia
comprado, por R$ 25. Assim como o acusado, também prestarão depoimento
nos próximos dias outros amigos que estavam reunidos naquela tarde. O
rapaz, responsabilizado de ter oferecido o spray a Rafaela, foi procurado
mas não compareceu à entrevista marcada com a reportagem da Gazeta do
Povo.
De acordo com a delegada,
quando for comprovado pelos exames que o gás que compõe a buzina é
fatal se inalado, será encaminhado ofício à Secretaria de Saúde para
que o retire do mercado e proíba sua comercialização. |