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Notícia de 02 de agosto de 2000

Alerta Brinquedo vendido livremente em shoppings da cidade coloca em risco a vida do consumidor

Fonte - Gazeta do Povo

Um simples frasco de spray com buzina, conhecido como Gas Horn (propano), comumente usado em jogos de futebol e até nas festas de carnaval como brinquedo, pode se tornar uma arma letal se manipulado indevidamente. O uso é destinado especificamente para provocar o barulho, no entanto, há quem já tenha descoberto outras finalidades para o produto, sem conhecer suas reais conseqüências. O meio para que a buzina, acoplada ao bico do frasco seja acionada é através do gás propano, que caso seja inalado provoca a morte por asfixia mecânica.

O drama desta experiência foi vivido pela família da estudante Rafaela Machado David, de 16 anos. A adolescente inalou o jato do gás de um frasco de Gas Horn, vendido em shoppings por R$ 15 ou em um kit de R$ 25, e teve morte instantânea. Segundo familiares, Rafaela desconhecia os perigos do produto e teria sido induzida por um colega, acusado de estar vendendo cada " cheiradinha" por R$ 1. A promessa era de que o efeito provocaria uma sensação alucinógena.

Versões

Quando Rafaela inalou o gás propano - um composto comburente -, teve uma convulsão que, segundo testemunhas, durou apenas um minuto. Como conseqüência, as vias aéreas foram obstruídas impedindo sua respiração, e sem oxigênio, sofreu hemorragias em alguns órgãos vitais.

O fato ocorreu em 12 de abril passado, às 19h20, a duas quadras de sua casa, na Rua Euzébio da Motta, Juvevê. Naquela ocasião, um dos amigos da adolescente, apontado como sendo a pessoa que ofereceu o spray, informou à polícia que Rafaela havia ingerido uma overdose de cocaína. Essa versão sustentada pelo acusado tumultuou um pouco as investigações, ao mesmo tempo em que o boletim de ocorrência confeccionado por soldados da Polícia Militar, que atenderam o caso no local, descrevia que se tratava de morte natural.

Somente 77 dias depois do episódio o laudo pericial emitido pelo Instituto Médico Legal de Curitiba concluiu que a adolescente teve morte causada por inalação exógena (que está na superfície) de gás propano.

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A mãe de Rafaela, Heloísa Machado Armando, diz que tem um único objetivo: "Entrar nessa batalha para limpar o nome filha". Isso porque Heloísa teve que conviver com a suspeita de que a adolescente era viciada em cocaína. Com o laudo em mãos, a mãe da vítima resolveu esclarecer o caso, que passou a ser investigado pela Delegacia de Homicídios. Nos exames toxicológicos, deram negativos os resultados sobre qualquer hipótese de uso de barbitúricos, psicotrópicos e cocaína no sangue da garota.

Mesmo admitindo saber que a estudante havia sido usuária de maconha durante um período, Heloísa garante que a garota estava longe das drogas. "O que mais me dói é saber que as pessoas chegaram a comentar que minha filha era chefe de uma gangue de viciados no Juvevê", desabafou a mãe, que pretendia doar os órgãos da jovem, que não puderam ser transplantados em razão de terem sido atingidos pelo gás. "Nem as córneas puderam ser doadas. Minha filha ficou totalmente inchada", revelou Heloísa.

Companhias

De acordo com relato de familiares da adolescente - que cursava o primeiro ano do ensino médio em um colégio estadual -, ela saiu de casa com uma amiga, por volta das 19h. A mãe era contrária a saída da filha com a colega, suspeita de estar envolvida com drogas. Contudo, Rafaela prometeu retornar em breve.

Heloísa disse que 20 minutos depois, uma senhora a procurou em sua casa avisando que sua filha havia sofrido um desmaio. Desesperada, a mulher foi até o local com um irmão e encontrou a adolescente caída no chão, sendo atendida por socorristas do Siate, que constataram que sua filha havia morrido.

Uso correto afasta perigo

O setor de química o Instituto de Criminalística do Paraná informa que o gás propano, cuja substância é encontrada no butijão de cozinha, não tem propriedade intoxicante. Não é um composto perigoso, se for usado de forma correta. No caso do Gas Horn, que não apresenta a formulação na embalagem, os peritos ainda estão em fase de análises do produto. Porém, os médicos alertam que se o propano for inalado inadequadamente pode causar asfixia mecânica, como aconteceu com Rafaela.

Amigo da vítima poderá ser indiciado por homicídio

O inquérito que apura a morte da estudante Rafaela Machado David, 16, ocorrida em 12 de abril passado, por intoxicação aguda na inalação de gás propano, está a cargo da delegada Vanessa Alice, da Homicídios. Ela encaminhou na semana passada um frasco do produto que a menor teria inalado (um tubo de Gas Horn, que produz som de buzina) para o Instituto de Criminalística, pedindo exames que confirmem que o propano é usado na confecção do brinquedo. "Quando o exame confirmativo estiver pronto, a pessoa que deu o gás para a menina cheirar será indiciada em inquérito por homicídio culposo", explicou a policial.

A pessoa a que se refere a delegada é um jovem morador próximo à casa da adolescente, que fazia parte da turma freqüentada por Rafaela. O suspeito ainda não foi ouvido na delegacia, o que deverá acontecer na próxima semana. Porém, os parentes de Rafaela - já interrogados - afirmam que o pai do rapaz confirmou que ele possuía a buzina e inclusive mostrou onde ele a havia comprado, por R$ 25. Assim como o acusado, também prestarão depoimento nos próximos dias outros amigos que estavam reunidos naquela tarde. O rapaz, responsabilizado de ter oferecido o spray a Rafaela, foi procurado mas não compareceu à entrevista marcada com a reportagem da Gazeta do Povo.

De acordo com a delegada, quando for comprovado pelos exames que o gás que compõe a buzina é fatal se inalado, será encaminhado ofício à Secretaria de Saúde para que o retire do mercado e proíba sua comercialização.