Anunciado
teste de vacina oral contra Aids
Sexta, 19 de maio
de 2000
O infectologista Robert Gallo, um dos descobridores do vírus causador
da Aids, anunciou nesta sexta-feira (19) que uma nova vacina oral e
preventiva contra a doença deve começar a ser testada em Uganda dentro
de um ano e meio. A vacina, desenvolvida pelo Instituto de Virologia
Humana, fundado e dirigido por ele, deve custar entre US$ 0,05 e US$
0,10 a dose. Há cerca de 40 vacinas anti-Aids em fase de testes, mas
nenhuma com previsão de custo tão baixo. A nova tecnologia usa a
salmonela como uma espécie de míssil teleguiado capaz de transportar
um pedaço de material genético do HIV, o vírus da Aids.
A vacina é baseada na
pesquisa de Andrew McMichael e seus colegas da Universidade de Oxford,
na Grã-Bretanha. McMichael identificou um grupo de prostitutas do Quênia,
aparentemente imunes à Aids. Ele descobriu, então, que os organismos
delas apresentavam uma forte reação imunológica detonada por células
chamadas de linfócitos-T citotóxicos (CTLs).
A vacina, desenvolvida
pelo pesquisador britânico, usa um pedaço do material genético do
revestimento externo do vírus e mais uma série de "minigenes"
destinados a estimular a produção de CTLs. Toda a pesquisa está sendo
financiada pelo International Aids Vaccine Iniciative (Iavi).
A salmonela foi escolhida
para ser o "transportador" da vacina por causa de sua
afinidade com a mucosa intestinal. O DNA da salmonela é modificado para
não ser infeccioso e nela são introduzidos o material genético do HIV
e os minigenes.
Administradas por via
oral, as bactérias da vacina vão se alojar nos intestinos. Dentro das
células intestinais, a bactéria é morta e seu material genético
infecta a célula hospedeira, que será, então, identificada e morta
pelos fagócitos, células do sistema imunológico.
A expectativa é que,
assim, seja estimulada a produção de CTLs. O organismo deve
desenvolver a chamada imunidade da mucosa. É através das mucosas - o
tecido que reveste boca, vagina e sistema digestivo - que o HIV entra no
organismo. Se as células imunológicas forem ativadas, com a vacina o
organismo terá maiores chances de combater o HIV quando a ele for
exposto sexualmente.
"Não é uma
resposta definitiva para a Aids, mas é um passo importante",
afirmou Gallo. A idéia do instituto é ceder a patente da vacina a um
grande laboratório, na condição de que ela seja produzida a um preço
acessível para governos de países pobres.
A África subsaariana
concentra hoje 70% dos casos de Aids de todo o mundo e em alguns países
a incidência alcança os 25% da população. |