Dois estudos confirmam a
importância do sono para a consolidação do
aprendizado no cérebro. Experiências sugerem que
dormir ajuda a aprimorar habilidades perceptuais e
motoras. A equipe do neurocientista Robert Stickgold, da
Universidade de Harvard (EUA), concluiu que um simples
cochilo evita que o desempenho de uma pessoa, em um
exercício de percepção, decaia devido à saturação
de informações no cérebro. O grupo constatou ainda
que as duas últimas horas de uma noite de sono são
essenciais para melhorar a performance em atividades
motoras.
O primeiro estudo foi
publicado em julho na revista Nature Neuroscience e
contou com a colaboração de pesquisadores do Instituto
Nacional de Saúde Mental dos EUA (NIMH). Voluntários
passaram por quatro sessões diárias de um exercício-padrão de
percepção visual que consistia em apontar a direção
de três barrinhas que apareciam no canto esquerdo da
tela de um computador. A equipe de Stickgold observou
que a média de acertos dos participantes decaía após
cada sessão. Voluntários que puderam dormir por 30 ou
60 minutos no intervalo das sessões tiveram a queda no
rendimento minimizada.
Segundo os cientistas,
as redes de neurônios do córtex visual -- região do cérebro
responsável pela percepção -- ficam gradualmente
saturadas com as informações vindas dos testes
repetitivos, o que causa uma espécie de fadiga. Os
pesquisadores encaram esse cansaço como um mecanismo do
córtex visual para preservar dados 'absorvidos' pelo cérebro,
que ainda não foram consolidados. O cochilo permitiria
que o córtex consolidasse essas informações antes que
outros dados fossem 'absorvidos'.
Como explica a
neurocientista Suzana Herculano-Houzel no livro O cérebro nosso de cada dia,
todo aprendizado requer modificações no cérebro. Para
que novas informações sejam consolidadas e lembradas,
os neurônios precisam se reestruturar e estabelecer
novas conexões entre si. Durante o sono, o cérebro é
inundado por uma série de substâncias químicas que
facilitam a comunicação entre essas células.
No segundo estudo,
publicado em 3 de julho na revista Neuron, dois grupos
de pessoas destras tiveram que teclar com a mão
esquerda uma seqüência de letras no computador em
horas diferentes do dia. O teste
foi repetido 12 horas depois. Os pesquisadores,
coordenados por Matt Walker, de Harvard, observaram que
o grupo que praticou de manhã e permaneceu acordado até
o segundo treino não teve melhora significativa. Já o
grupo que pôde dormir 8 horas entre os treinos melhorou
cerca de 20 %.
O monitoramento
cerebral dos voluntários mostrou que a melhora foi
proporcional à quantidade de sono não-REM (rapid eye
moviment) que essas pessoas tiveram nas duas últimas
horas dormidas. O sono de um adulto é organizado em
ciclos que alternam a fase não-REM -- subdividida em 4
estágios, que vão do sono leve ao mais profundo -- e a
fase REM, em que ocorre a maioria dos sonhos.
Walker atribui o
melhor desempenho à atividade cerebral peculiar do sono
não-REM. A atividade dos neurônios nessa fase,
principalmente nas duas últimas horas de sono, é mais
sincronizada, o que facilitaria a reorganização
estrutural das conexões entre os neurônios. Já se
sabia que a habilidade motora de uma pessoa continua a
se aperfeiçoar por mais 24 horas após o treino.
"Para melhor explorar o potencial de aprendizado do
cérebro, atletas, dançarinos e músicos devem ter uma
boa noite de sono antes que esse prazo termine",
disse o pesquisador.
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